sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O Perigo das Estruturas: Como a Igreja Pode Perder Seu Verdadeiro Propósito(L8)

 

(Paris, França)

Por isso que eu falo: não existe comparação. Não estou falando de comparação entre homens, entre ministérios ou entre instituições. Estou falando da maneira como você está enxergando o que Deus está colocando em seu coração, das sementes que Ele está plantando. O homem, por si só, é incapaz de produzir o Reino de Deus. A Escritura deixa claro que é o Espírito Santo quem realiza essa obra.

Jesus disse: “Eu sou a videira, vós sois os ramos; quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5). O próprio Cristo nos ensina que, fora da Sua vida e do poder do Espírito, é impossível produzir qualquer fruto eterno ou estabelecer o Reino de Deus. O Reino não é uma obra humana, mas divina.

O Espírito Santo é quem constrói o Reino de Deus. Como está escrito: “E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um espírito novo; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne, para que andem nos meus estatutos e guardem os meus juízos, e os executem; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Ezequiel 11:19-20). Essa promessa nos revela que o coração humano só pode ser transformado e capacitado para o serviço no Reino pela ação soberana do Espírito Santo.

Somos meros servos, plantadores, e edificadores por meio da graça de Deus. Paulo, em sua carta aos Coríntios, destaca essa verdade: “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento” (1 Coríntios 3:6). Ele nos lembra que, mesmo com todo o nosso trabalho, é Deus quem faz a semente brotar, crescer e frutificar. Sem a ação divina, todo esforço humano é em vão.

O Reino de Deus não é sobre dinheiro, estruturas ou poder humano. Muitas vezes, a divisão dentro do corpo de Cristo acontece por questões financeiras ou de status. No entanto, Paulo também enfrentou essa realidade, como nos ensina a Escritura: “Porque não havia lugar para mim nos vossos corações... trabalhei com as minhas próprias mãos” (2 Coríntios 11:7-9). Paulo precisou trabalhar como fabricante de tendas para sustentar seu ministério, pois a igreja em Corinto, apesar de ter recursos, não financiou seu trabalho.

Mesmo assim, Paulo seguiu o exemplo de Cristo, não buscando recompensas materiais, mas servindo de forma sacrificial. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Filipenses 2:5-7). Esse é o exemplo que devemos seguir: uma vida de serviço, não para a nossa glória, mas para a glória de Deus.

Infelizmente, muitas vezes o povo de Deus é seduzido por falsos líderes. Paulo lamenta que, enquanto ele foi ignorado, os falsos apóstolos foram aceitos e financiados pela igreja em Corinto: “Pois se alguém vem e prega um Jesus diferente daquele que pregamos, ou se aceitais um espírito diferente daquele que recebestes, ou um evangelho diferente daquele que abraçastes, a esse de boa mente o tolerais” (2 Coríntios 11:4). A igreja de Corinto financiou os falsos apóstolos, pois suas palavras eram agradáveis, mesmo que misturadas com engano.

Hoje, muitas vezes, a igreja ainda corre o risco de abraçar discursos que misturam verdade e mentira, desviando-se do foco verdadeiro: Cristo e Sua obra redentora. O apóstolo João nos alerta: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4:1).

O verdadeiro Reino de Deus é centrado em Cristo, e não no homem. Como Paulo nos ensina, “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!” (Romanos 11:36). O anticristo, como a própria palavra indica, é aquele que substitui Cristo, colocando o homem no centro. O foco dele não é Satanás diretamente, mas sim uma filosofia antropocêntrica, onde o homem é o centro e a medida de todas as coisas.

Cristo, ao contrário, é o centro da verdadeira obra de Deus: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Colossenses 1:18). Qualquer coisa que não coloca Cristo no centro está errada e se opõe ao verdadeiro Reino de Deus.

O foco de nossas vidas e ministérios deve ser sempre em Cristo. Como Paulo nos ensina: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3:11). Ele é o centro da mensagem, o centro da nossa vida, o centro de tudo o que fazemos. Se perdermos esse foco, estamos construindo sobre a areia.

A verdadeira igreja é invisível e triunfante. É composta por aqueles que nasceram de novo, que foram regenerados pela graça de Deus, e que colocam sua fé em Cristo. Como Jesus prometeu: “Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18). Esta igreja não é identificada por estruturas visíveis, mas pela santidade, fé e obediência de seus membros a Cristo.

Devemos investir nas pessoas e não nas estruturas. Nosso foco deve ser sempre edificar o corpo de Cristo. Paulo nos exorta a essa prioridade: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11-12). Investir nas pessoas significa capacitá-las para serem luz no mundo, e não escravizá-las em sistemas e estruturas.

Em tudo, o foco é Cristo. Quando Cristo não é o centro, rapidamente a igreja se torna um empreendimento corporativo, lutando com as armas deste mundo — status, influência política e poder econômico. Mas o apóstolo Paulo nos lembra: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (2 Coríntios 10:4).

Por isso, que o Espírito Santo nos guie em toda verdade, nos capacite a permanecer firmes em Cristo e nos dê discernimento para construir sobre o verdadeiro fundamento que é Jesus. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Salmo 127:1).

Estamos constantemente vivendo divisões, muitas vezes causadas por questões financeiras. Isso não é algo novo, pois vemos um exemplo claro nas Escrituras através do apóstolo Paulo. Hernandes Dias Lopes, um dos teólogos, pastores e exegetas mais respeitados do Brasil, mencionou em um podcast que assisti recentemente um fato interessante sobre a igreja de Corinto. Ele destacou que essa igreja, apesar de possuir recursos e membros ricos, não financiou o ministério de Paulo.

Está escrito na carta que Paulo teve de trabalhar como fabricante de tendas para se sustentar, gastando tempo e energia que poderiam ter sido dedicados integralmente ao ministério. Paulo expressa isso em 2 Coríntios 11:7-9: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas despojei, recebendo delas salário, para vos servir; e, quando estava presente convosco e tive necessidade, a ninguém fui pesado. Pois os irmãos que vieram da Macedônia supriram o que me faltava".

Aqui, Paulo revela sua situação: ele precisou depender de outras igrejas para sustentar seu ministério entre os coríntios, pois a própria igreja local não o apoiou financeiramente. Ele teve que trabalhar para se sustentar, como mencionado em Atos 18:3, onde é dito que ele era fabricante de tendas.

Isso aconteceu em uma igreja que tinha recursos. Havia pessoas com posses entre os coríntios, mas, ainda assim, eles negligenciaram o sustento de Paulo. No entanto, o mais intrigante é que essa mesma igreja, que falhou em apoiar o verdadeiro apóstolo, decidiu financiar os falsos apóstolos. Paulo os adverte duramente sobre isso em 2 Coríntios 11:13-15: "Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é, pois, grande coisa que também os seus ministros se transfigurem em ministros de justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras."

Esses falsos apóstolos apresentavam uma mensagem misturada com meias verdades e mentiras, seduzindo a igreja de Corinto, que acabou abraçando e financiando essas pessoas. A igreja, por algum motivo, estava disposta a sustentar aqueles que distorciam a verdade do evangelho.

Isso nos ensina uma importante lição sobre discernimento e prioridades. Muitas vezes, igrejas ou indivíduos acabam investindo seus recursos naquilo que é exteriormente atraente ou no que agrada seus ouvidos, como Paulo menciona em 2 Timóteo 4:3-4: "Porque virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas."

Esses mestres falsos falavam de maneira agradável, e, por isso, foram apoiados pela igreja. No entanto, Paulo, que proclamava a verdade do evangelho com sinceridade e sem adulteração, foi negligenciado. O apóstolo deixa claro que sua motivação não era o lucro, mas sim a proclamação da verdade. Ele escreve em 2 Coríntios 2:17: "Porque nós não somos, como tantos outros, que fazem comércio da palavra de Deus; antes, em Cristo, falamos na presença de Deus com sinceridade, da parte do próprio Deus."

A divisão por questões financeiras e a falta de discernimento sobre onde investir os recursos do Reino continuam sendo um desafio hoje. Assim como a igreja de Corinto falhou em reconhecer a importância de sustentar um ministério fiel, muitas igrejas hoje podem estar priorizando o que é atraente e popular, em vez do que é genuinamente centrado em Cristo e na verdade do evangelho.

Paulo nos ensina que o evangelho deve ser sustentado e proclamado com integridade, sem distorções. Ele nos lembra que o verdadeiro ministério é realizado no poder de Deus, e que é nosso dever apoiar aqueles que estão fielmente proclamando a verdade. Em Gálatas 6:6, Paulo orienta: "Aquele que está sendo instruído na palavra deve compartilhar todas as coisas boas com quem o instrui." Ou seja, há um princípio bíblico claro para sustentar aqueles que estão trabalhando para o evangelho.

O Reino de Deus não é construído através de manipulações ou de promessas vazias. Ele é edificado pelo poder do Espírito Santo, e Deus usa os recursos de Seu povo para avançar Seu Reino quando esses recursos são aplicados corretamente. Portanto, devemos ter discernimento sobre como e onde investir, sempre lembrando que nosso principal foco deve ser o avanço da verdade de Cristo.

Como Paulo exorta em 1 Coríntios 9:14: "Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho." A igreja é chamada a sustentar os ministros fiéis, para que possam se dedicar integralmente à obra de Deus, sem que precisem se preocupar com suas necessidades materiais, como Paulo teve que fazer em Corinto.

Hoje, a situação não é muito diferente do que era no tempo de Paulo. Muitos afirmam suas opiniões com convicção, baseadas em narrativas sem fundamento bíblico sólido. Mas, precisamos refletir e buscar a verdade na Palavra de Deus, sem nos deixar enganar por discursos vazios. É por isso que te pergunto: Paulo fundou a igreja de Corinto, plantou essa igreja no Espírito, e a gerou no evangelho, como ele mesmo diz em 1 Coríntios 4:15: "Ainda que vocês tivessem dez mil tutores em Cristo, vocês não teriam muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei pelo evangelho." Paulo foi o instrumento usado por Deus para trazer a mensagem da salvação àquela comunidade.

No entanto, a resposta da igreja de Corinto para Paulo foi decepcionante. Em vez de reconhecer o esforço e o sacrifício de Paulo, muitos na igreja acreditavam que ele deveria simplesmente “se virar”. Em suas próprias palavras, Paulo relata a situação em 2 Coríntios 12:13-15: "Em que vocês foram inferiores às outras igrejas, senão no fato de que eu mesmo nunca lhes fui pesado? Perdoem-me esta ofensa! Agora estou pronto para visitá-los pela terceira vez e não serei um peso para vocês, porque o que eu quero não é o que vocês têm, mas vocês mesmos. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. Assim, de boa vontade gastarei tudo o que tenho e me gastarei a mim mesmo em prol de vocês. Se os amo tanto mais, serei amado tanto menos?" Paulo, com ironia e dor, fala da falta de reconhecimento da igreja de Corinto por todo o seu trabalho.

Paulo era um trabalhador incansável para o evangelho, mas a igreja que ele fundou não o sustentou como deveria. Ao invés de apoiar seu ministério, muitos acreditavam que ele deveria "se virar". Paulo teve que fazer tendas para se sustentar, como é mencionado em Atos 18:3, enquanto estava em Corinto. Ele usava seu tempo e energia para trabalhar, ao invés de se dedicar completamente ao evangelho.

Mesmo com todas essas dificuldades, Paulo nunca deixou de pregar a verdade. Ele se recusou a ser um fardo para a igreja, para que ninguém pudesse acusá-lo de pregar o evangelho por interesse financeiro. Ele afirma isso em 2 Coríntios 11:9: "E, quando estive entre vocês e passei necessidade, não fui um peso para ninguém, pois os irmãos que vieram da Macedônia supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim." Paulo estava determinado a manter sua integridade, mesmo que isso significasse enfrentar grandes sacrifícios.

O contraste com os falsos apóstolos é evidente. Enquanto Paulo trabalhava com suas próprias mãos para não ser pesado à igreja, esses falsos apóstolos, com discursos enganosos, foram bem recebidos e financiados pela igreja de Corinto. Paulo os denuncia em 2 Coríntios 11:13-15: "Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, fingindo-se de apóstolos de Cristo. E não é de admirar, pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é surpresa, portanto, que os seus servos finjam ser servos da justiça; o fim deles será o que as suas ações merecem." A igreja, ao não discernir a verdade, acabou abraçando e sustentando aqueles que distorciam o evangelho.

Paulo não buscava reconhecimento ou recompensas materiais. O que ele queria era ver a igreja crescendo na verdade e na santidade. Ele declara isso em 1 Coríntios 9:18: "Qual é, pois, a minha recompensa? Que, pregando o evangelho, eu o apresente de graça, não fazendo uso pleno do meu direito no evangelho." Paulo abria mão dos seus direitos como apóstolo para garantir que o evangelho fosse pregado sem nenhum obstáculo.

Este exemplo nos traz um alerta atual. Hoje, como na época de Paulo, muitos líderes fiéis ao evangelho não recebem o reconhecimento ou apoio que merecem, enquanto outros, que distorcem a verdade, são amplamente aceitos e até financiados. Devemos lembrar das palavras de Paulo em Gálatas 6:6: "Aquele que está sendo instruído na palavra deve compartilhar todas as coisas boas com quem o instrui." A igreja tem a responsabilidade de sustentar aqueles que trabalham fielmente no ministério da Palavra.

Além disso, a falta de apoio a um ministério legítimo pode ser um reflexo da falta de discernimento espiritual. Em 2 Timóteo 4:3-4, Paulo alerta: "Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos." Muitas vezes, as pessoas preferem ouvir o que agrada seus desejos, em vez de abraçar a verdade do evangelho, e acabam investindo em falsos mestres.

O desafio de hoje é o mesmo: reconhecer e apoiar aqueles que pregam a verdade, mesmo que isso vá contra o que é popular ou confortável. Paulo, apesar de tudo, nunca desistiu da missão que Deus lhe deu. Ele seguiu firme em seu propósito de plantar igrejas e ensinar a verdade, sem se deixar influenciar pelo reconhecimento ou falta de apoio. Como ele escreve em 1 Coríntios 15:58: "Portanto, meus amados irmãos, sejam firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o trabalho de vocês não é vão.".

Vamos aprender com o exemplo de Paulo e discernir onde estamos investindo nossos recursos e nosso apoio, para que o evangelho de Cristo continue sendo pregado com fidelidade e integridade. O apóstolo Paulo enfrentou grandes desafios, não apenas de inimigos externos, mas também dentro da própria igreja que ele fundou. Ele trabalhou arduamente, gerando a igreja de Corinto no evangelho e no Espírito, como já mencionei. Contudo, quando falsos apóstolos chegaram com um discurso “diferente”, mesclando meias verdades com mentiras, a igreja os financiou e os recebeu de braços abertos.

Paulo, em sua defesa, lamenta essa situação em 2 Coríntios 11:4: “Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus diferente daquele que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do que acolheram ou um evangelho diferente do que aceitaram, vocês o suportam facilmente.” Esse versículo demonstra como a igreja de Corinto não teve discernimento espiritual suficiente para rejeitar esses falsos apóstolos. Isso serve como um alerta para nós hoje. Devemos refletir sobre o que é a verdade e onde está nosso discernimento.

Não se trata de uma questão denominacional. O foco aqui não é sobre ser contra ou a favor de determinada instituição religiosa, mas sobre entender a mentalidade espiritual por trás das coisas. Muitas vezes, as igrejas e seus membros caem no erro de adotar um pensamento institucional ou materialista, colocando estruturas e poder humano acima da missão principal, que é Cristo e o Seu evangelho.

Paulo nos alerta sobre esse perigo ao ensinar que a verdadeira liberdade só existe dentro da vontade soberana de Deus. Como ele afirma em 1 Coríntios 10:23: “Tudo é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo é permitido”, mas nem tudo edifica.” Embora tenhamos liberdade em Cristo, essa liberdade é direcionada pelo Espírito Santo para nos edificar no corpo de Cristo e glorificar a Deus, e não para alimentar os desejos humanos.

Paulo também nos exorta a não julgarmos as coisas precipitadamente, pois só no final veremos o que foi feito de fato em Cristo e o que foi feito no espírito do anticristo. Ele diz em 1 Coríntios 4:5: “Portanto, não julguem nada antes do tempo devido; esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua aprovação.” Devemos ter cuidado ao julgar, pois muitas vezes só no fim dos tempos veremos as verdadeiras intenções e obras das pessoas e das instituições.

O anticristo, na verdade, é antropocêntrico, ou seja, foca no homem como o centro de tudo. Muitas vezes as pessoas pensam que o anticristo é alguém focado em Satanás de maneira óbvia, mas o grande engano é que ele exalta o homem, colocando o ser humano no centro, em vez de Deus. Esse é o espírito do anticristo. Em 2 Tessalonicenses 2:3-4, Paulo alerta: “Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia, e então será revelado o homem do pecado, o filho da perdição. Ele se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, a ponto de se assentar no santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus.” O espírito do anticristo se manifesta na exaltação do homem, onde o foco está no “eu”, nas necessidades humanas, em vez de Cristo e Seu reino.

Cristo, por outro lado, é o centro da obra de Deus, o Pai. Em Cristo, o foco é a glória de Deus e a salvação dos homens, não a exaltação humana. Ele é o modelo de serviço, humildade e abnegação, conforme descrito em Filipenses 2:5-8: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” Aqui vemos o contraste entre a mentalidade do anticristo, centrada no homem, e a mentalidade de Cristo, centrada no Pai e em Sua obra de redenção.

O foco no homem é perigoso, porque leva à busca de poder, status e controle, coisas que são contrárias ao espírito do evangelho. Em vez de seguirmos esse caminho, devemos manter nosso foco em Cristo, como Paulo nos instrui em Colossenses 3:1-2: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas.” Nossa vida deve ser orientada para Cristo, não para o mundo ou para nós mesmos.

Nossa liberdade em Cristo não é para seguir nossas próprias vontades, mas para seguir a vontade de Deus. A igreja deve ter discernimento e manter Cristo no centro de tudo, rejeitando qualquer exaltação do homem ou tentativa de centralizar o poder na instituição humana. Devemos reconhecer que, no fim, só o que foi feito em Cristo permanecerá, enquanto o que foi feito no espírito do anticristo, centrado no homem, será destruído.

Tudo que vai contra o que Jesus fez, morrendo na cruz para salvar pessoas, segue no caminho do anticristo. O apóstolo João nos adverte em 1 João 4:3: “Mas todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não procede de Deus; esse é o espírito do anticristo, a respeito do qual vocês ouviram que viria, e agora já está no mundo.” O espírito do anticristo age contrariamente ao evangelho de Cristo, desviando o foco da obra redentora de Jesus para sistemas humanos, instituições e interesses terrenos.

Jesus não morreu na cruz para formar um sistema ou uma instituição. Se o propósito de Sua vinda fosse estabelecer uma organização humana, poderíamos pensar que Ele teria instituído uma única organização no mundo, visto que Deus é soberano e tem poder sobre todas as coisas. Porém, o objetivo da cruz vai muito além de um sistema terreno. Cristo veio para resgatar a humanidade da escravidão do pecado, para dar a vida eterna àqueles que creem. Efésios 2:8-9 nos lembra que a salvação não é obra humana ou institucional: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isso não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” A graça salvadora de Cristo não depende de um sistema, mas da fé no Filho de Deus.

A verdadeira igreja é a igreja invisível, composta pelos santos, aqueles que nasceram de novo e vivem suas vidas com fé em Jesus Cristo. Esta é a igreja perfeita, a noiva sem mácula que Cristo está preparando para si mesmo, conforme descrito em Efésios 5:25-27: “Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela, para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável.” Aqui vemos a profundidade do amor de Cristo pela Sua igreja, que é espiritual e transcende qualquer instituição terrena.

Essa igreja invisível, formada por aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo, é a igreja triunfante, a igreja gloriosa que Jesus virá buscar em Seu retorno. Em Mateus 16:18, Jesus declara: “E eu digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.” A igreja verdadeira, aquela que pertence a Cristo, é invencível e imaculada. Não é formada por tijolos e argamassa, mas por pessoas cujos corações foram transformados e que vivem em obediência à Palavra de Deus.

O foco de Cristo sempre foi e sempre será nas pessoas e não em sistemas humanos. Como Ele afirma em João 10:11: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” Cristo entregou Sua vida por pessoas, e não para criar uma estrutura hierárquica ou sistema religioso. Essa igreja invisível é composta por aqueles que aceitaram o sacrifício de Jesus e vivem com Ele como o centro de suas vidas, conforme ensina Colossenses 1:18: “Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.” Jesus é o centro da igreja e deve ser o centro de todas as nossas ações e devoção.

Devemos nos lembrar de que a verdadeira igreja é espiritual e a obra de Deus se realiza por meio daqueles que foram transformados pelo Espírito Santo, não através de sistemas ou instituições. Como Jesus disse em João 4:23-24: “No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” A adoração genuína e a verdadeira igreja transcendem formas externas; elas estão enraizadas em um relacionamento vivo com Cristo.

Cristo virá buscar Sua noiva, a igreja triunfante, composta por aqueles que foram justificados pela fé e santificados pela obra contínua do Espírito Santo. Essa igreja é a verdadeira igreja, invisível aos olhos humanos, mas perfeitamente visível e conhecida por Deus, como enfatizado em Apocalipse 19:7-8: “Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro. O linho fino são os atos justos dos santos.”

Se você compreende essa verdade, organizará suas prioridades de acordo com os princípios do Reino de Deus. Quando precisar escolher entre uma pintura na parede ou uma pessoa que está trabalhando para o evangelho, você escolherá a pessoa. Jesus nos ensinou que as pessoas têm um valor inestimável. Ele afirma em Mateus 6:19-20: "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam." Os tesouros celestiais não são coisas materiais, mas sim vidas transformadas e almas salvas.

Da mesma forma, se tiver que escolher entre gastar uma hora do seu tempo para oferecer uma palavra de encorajamento a um pastor ou líder que está precisando, ou realizar uma tarefa administrativa da igreja, você dará prioridade à pessoa. Jesus mostrou esse princípio em sua vida e ministério ao valorizar relacionamentos acima de regras e sistemas. Em Mateus 12:7, Ele diz: "Se vocês soubessem o que significam estas palavras: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’, não teriam condenado inocentes." A misericórdia e o cuidado com as pessoas são mais importantes que os rituais e formalidades.

Sempre que investir em uma "máquina", seja uma estrutura física ou um programa, essa estrutura deve estar a serviço das pessoas, e não o contrário. A máquina não pode escravizar ou consumir as pessoas. Quando a igreja se torna apenas uma instituição focada em manter a si mesma, ela perde sua essência. Paulo adverte em Gálatas 5:13: “Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor.” Aqui, ele nos lembra que a nossa liberdade e tudo o que fazemos, inclusive na igreja, deve ser em benefício do próximo, e não para alimentar sistemas ou estruturas sem vida.

Jesus deu o exemplo claro de que o foco do Seu ministério estava nas pessoas e não em templos ou tradições religiosas. Ele curava os enfermos, restaurava os marginalizados e acolhia os pecadores, enquanto muitas vezes desafiava as estruturas religiosas que escravizavam as pessoas. Em Marcos 2:27, Jesus ensina: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado." Isso ilustra como até mesmo as práticas religiosas devem servir para o bem das pessoas, e não o contrário.

Portanto, toda vez que investir em algo físico ou estrutural, seja um edifício ou um projeto, pergunte a si mesmo: isso está servindo às pessoas?. Se a resposta for "não", então o foco está no lugar errado. Jesus nos comissionou a fazer discípulos, e isso requer um investimento profundo nas vidas das pessoas, não em máquinas ou sistemas. Como Paulo nos ensina em Efésios 4:11-12: "E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado." O propósito da igreja é edificar pessoas, preparando-as para viverem como luz no mundo, e não edificar estruturas que escravizem ou desviem o foco.

Quando o foco é a obra de Cristo em cada pessoa, a igreja cumpre seu verdadeiro propósito. Ela se torna um lugar onde as pessoas são transformadas e capacitadas para ser luz no mundo, conforme Jesus disse em Mateus 5:14: "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte." A igreja visível pode até desaparecer um dia, mas a luz que brilha através das vidas de homens e mulheres transformados pelo evangelho continuará iluminando o mundo.

As pessoas no Egito estavam escravizadas pelo faraó e pelo sistema, trabalhando arduamente em um regime de opressão. Deus, em sua misericórdia, as chamou para sair do Egito, atravessar o deserto e chegar à Terra Prometida, uma terra que, como Ele prometeu, "mana leite e mel" (Êxodo 3:8). Esse leite e mel simbolizam a provisão natural de Deus, onde a terra produziria o sustento sem que fosse necessário o tipo de escravidão que existia no Egito. O foco de Deus sempre foi nas pessoas, em sua libertação e restauração, e não nas estruturas opressoras que escravizam.

O Evangelho é Cristo no homem, Cristo como o centro da vida da pessoa e de tudo que fazemos. Paulo expressa essa verdade em Gálatas 2:20, dizendo: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim." Isso significa que nossa vida é moldada pela presença de Cristo, e Ele é o centro de todas as nossas decisões, ações e prioridades.

Se você discordar de mim em aspectos denominacionais, não há problema, pois isso não nos impede de sermos irmãos na fé, uma vez que fomos salvos pelo mesmo Pai e pelo mesmo Filho, Jesus Cristo. Efésios 4:4-6 nos lembra: "Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos." Nossa união em Cristo é o que nos define como irmãos, independentemente de diferenças institucionais.

Contudo, em algum momento, nossas direções podem se tornar opostas, porque construímos sobre sistemas diferentes. Jesus advertiu sobre isso em Mateus 7:24-27, onde Ele descreve duas casas: uma construída sobre a rocha, que representa aqueles que ouvem e praticam Suas palavras, e outra sobre a areia, que cai quando as tempestades vêm. Nossas convicções e ações serão testadas, e o que é construído fora dos princípios de Cristo não prevalecerá.

Esse conflito de interesses surge quando os sistemas humanos, com suas tradições e estruturas, muitas vezes entram em choque com o puro evangelho de Cristo, que é simples e focado nas pessoas. Paulo nos adverte em Colossenses 2:8: "Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo." À medida que seguimos caminhos diferentes, talvez se torne inevitável que conflitos apareçam, especialmente quando se tenta edificar algo com base em sistemas humanos ao invés de na verdade de Cristo.

O conflito entre o que é feito para a glória de Deus e o que é feito para manter instituições ou sistemas humanos sempre existirá. Jesus alertou sobre isso em Mateus 15:8-9, ao citar Isaías: "Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens." Quando colocamos a instituição acima da verdade de Cristo, caímos nesse erro, e esse tipo de conflito inevitavelmente surgirá.

Por isso, devemos lembrar constantemente que o foco é Cristo como o centro de tudo, e não qualquer sistema. Em 1 Coríntios 3:11, Paulo afirma: "Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo." Toda edificação que fazemos deve ser sobre esse fundamento, e qualquer outra tentativa resultará em um conflito entre o que é feito por Cristo e o que é feito para agradar aos homens.

Toda vez que você precisar se perguntar sobre o que está fazendo com seu tempo, energia e dinheiro, pense no foco. O foco deve sempre ser nas pessoas e na edificação delas, e não em estruturas complexas que acabam se tornando o centro das atenções. As pessoas muitas vezes justificam suas ações dizendo: "Ah, eu preciso fazer isso porque é para as pessoas", mas, na verdade, estão apenas aumentando a complexidade da máquina institucional, exigindo mais pessoas para trabalharem nela e tirando o foco daquilo que realmente importa: a edificação espiritual e o cuidado do próximo.

Jesus deixa claro que o foco deve ser nas pessoas quando nos dá o segundo grande mandamento: "Ame o seu próximo como a si mesmo" (Mateus 22:39). O amor e o cuidado pelo próximo é a essência do evangelho. Paulo também reforça isso ao dizer: "Carreguem os fardos uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo" (Gálatas 6:2). Nosso tempo e recursos devem ser investidos no cuidado e crescimento espiritual das pessoas, e não em estruturas que, no fim, podem escravizar e distrair da verdadeira missão.

Se você quer bons pastores e mestres, é preciso sustentá-los para que possam desenvolver sua vocação plenamente. A Palavra nos ensina em 1 Timóteo 5:17-18: "Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino. Pois a Escritura diz: 'Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal', e 'O trabalhador merece o seu salário'." Isso significa que aqueles que se dedicam ao ministério da Palavra e à edificação do corpo de Cristo devem ser adequadamente sustentados, para que possam se concentrar inteiramente em sua vocação.

Muitas vezes, as expectativas impostas aos líderes espirituais são desumanas. Espera-se que eles trabalhem 10 horas por dia, cuidem de suas famílias, de suas casas, e ainda desenvolvam sua vocação com excelência na igreja. No entanto, a Bíblia nos alerta a não sobrecarregar aqueles que servem a Deus. Em Atos 6:2-4, vemos os apóstolos priorizando a pregação da Palavra e a oração, delegando outras responsabilidades a diáconos: "Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus a fim de servir às mesas. Escolham entre vocês sete homens de bom testemunho... para nos dedicarmos à oração e ao ministério da palavra." O equilíbrio entre trabalho ministerial e outras responsabilidades é essencial para o crescimento saudável da igreja.

É necessário investir nas pessoas, para que elas tenham tempo e energia para se dedicar à edificação do corpo de Cristo. Paulo enfatiza a importância de edificar a igreja como um corpo, em que cada membro é essencial e precisa ser cuidado para que funcione plenamente: "O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para o outro... mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função" (Efésios 4:14-16).

Investir no desenvolvimento espiritual de líderes e mestres é essencial para a saúde da igreja. Eles precisam ser capacitados e sustentados para se dedicarem totalmente ao ministério, sem a distração de pressões financeiras ou de sobrecarga. 2 Timóteo 2:15 exorta: "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade." Para que os obreiros possam manejar bem a Palavra, eles precisam de tempo para se aprofundar nas Escrituras e preparar-se espiritualmente.

O que devemos evitar é o crescimento de estruturas que, em vez de servir às pessoas, acabam escravizando-as. Jesus advertiu os fariseus por seu foco em estruturas e tradições humanas, em vez de no coração das pessoas: "Eles atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os colocam sobre os ombros dos homens; mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los com um só dedo" (Mateus 23:4). As estruturas, quando mal utilizadas, podem se tornar um fardo que impede o verdadeiro ministério, que é o cuidado e edificação das vidas em Cristo.

Ao pensar em como investir seu tempo, energia e recursos, priorize sempre as pessoas, pois é para elas que o evangelho é destinado. Estruturas são ferramentas, não fins em si mesmas. Jesus, o bom pastor, nos mostrou que o cuidado das ovelhas é o que importa, não o crescimento de um sistema institucional. Ele disse: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (João 10:11). Se queremos seguir Seu exemplo, devemos estar dispostos a investir no crescimento espiritual e bem-estar daqueles que compõem o corpo de Cristo.

Se a igreja continuar focada em estruturas, eventos e calendários, em pouco tempo ela se tornará um empreendimento corporativo, e o foco passará a ser o lucro, o caixa, e a influência social, econômica e política. Isso vai colocá-la em uma posição de competir com o mundo usando as mesmas armas, algo que os apóstolos nunca fizeram. Eles estavam cercados pelo Império Romano, um sistema poderoso e opressor, mas nunca tentaram lutar com as mesmas estratégias ou armas. Ao invés disso, seguiram o exemplo de Cristo, que disse: "Meu reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu reino não é daqui" (João 18:36).

Quando a igreja se foca em estruturas e calendários, perde de vista seu verdadeiro propósito: ser o corpo vivo de Cristo na Terra, um corpo que existe para glorificar a Deus, fazer discípulos e pregar o evangelho, não para se consolidar como uma instituição de poder. Paulo nos adverte sobre o perigo de sermos conformados com este mundo: "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2).

O padrão deste mundo é focado em lucro, poder e controle. E é exatamente isso que acontece quando a igreja se desvia de sua missão principal. Ela começa a lutar com as armas deste mundo, como influência política e econômica, ao invés de confiar na Palavra e no Espírito Santo para transformar vidas. 2 Coríntios 10:3-4 nos lembra: "Pois embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas." As armas da igreja são espirituais, não materiais.

Jesus também alertou contra a tentação de focar em tesouros terrenos, quando disse: "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu" (Mateus 6:19-20). A verdadeira riqueza da igreja não está em propriedades, grandes eventos ou influência política, mas no seu tesouro celestial: pessoas transformadas pela graça de Deus.

A história da igreja no Novo Testamento nos ensina que o foco nunca foi poder ou influência terrena. Os apóstolos e a igreja primitiva enfrentaram perseguições e opressão do Império Romano, mas não se preocuparam em adquirir poder político ou status social. Pelo contrário, Paulo afirma que a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades: "Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais" (Efésios 6:12).

A igreja que busca poder terreno está invertendo seu papel. Jesus nos deu o exemplo máximo de serviço e humildade. Quando seus discípulos discutiam sobre quem seria o maior no reino de Deus, Ele lhes respondeu: "Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20:26-28).

Portanto, se o foco da igreja estiver em influenciar politicamente ou em acumular recursos financeiros, ela perderá sua identidade. Cristo nos chamou para sermos luz do mundo e sal da terra (Mateus 5:13-14), e não para sermos mais uma instituição que segue os moldes do sistema mundano. Paulo adverte que o perigo da ganância pode desviar o coração dos líderes e dos membros da igreja: "Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Alguns, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos" (1 Timóteo 6:10).

Se lermos a Bíblia com o coração aberto, todo o contexto das Escrituras, e não apenas versículos isolados, compreenderemos que a verdadeira missão da igreja é glorificar a Deus e proclamar o evangelho de Jesus Cristo, e não construir impérios ou fortalecer estruturas. O evangelho é sobre transformação de vidas, e essa transformação começa em nossos corações, não em estruturas humanas ou organizações.

Deus nos chama a voltar ao foco: Cristo como centro de tudo o que fazemos. Como Paulo disse: "Eu decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado" (1 Coríntios 2:2). Se mantivermos nossos olhos em Cristo e nossa missão no avanço do evangelho, seremos fiéis ao chamado de Deus, não importando os sistemas que este mundo oferece.

Que Deus abençoe você, e que possamos manter o foco naquilo que é eterno, investindo em vidas e não em sistemas temporários, porque, como Jesus ensinou: "Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Marcos 8:36).

Deus vos abençoe

Leonardo Lima Ribeiro 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Armadilha da Força: Como as Maiores Qualidades de um Líder Podem se Tornar Suas Maiores Vulnerabilidades(L9)

  (Schweinfurt, Alemanha) O orgulho é uma armadilha insidiosa para o líder desavisado, pois se infiltra de maneira sutil e subversiva em sua...