segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Quando Jesus não é mais o modelo

(Alzey, Alemanha)

Muitas vezes, pastores se encontram em situações difíceis, mal conseguindo pagar o aluguel, e a resposta que recebem da denominação é algo como: "Vai trabalhar com carteira assinada, arruma um emprego CLT." Enquanto isso, a denominação passa a consumir todos os recursos em benefício próprio, esquecendo-se de seu verdadeiro propósito. Algumas denominações até realizam trabalhos sociais, como doação de cestas básicas ou construção de casas para os necessitados. 

No entanto, muitas denominações não se envolvem em trabalhos sociais, deixando de apoiar missionários, pastores e outras pessoas que estão trabalhando em diferentes lugares para espalhar o Evangelho. Isso vai contra o mandamento de Jesus de cuidar uns dos outros.

Jesus nos ensina a cuidar dos necessitados em Mateus 25:35-36, onde Ele diz: "Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber..." Isso mostra que o amor por Cristo deve ser demonstrado através do cuidado com os outros.

Gálatas 6:2 nos lembra: "Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo." A igreja tem a responsabilidade de apoiar seus membros, especialmente aqueles dedicados ao ministério.

Filipenses 4:15-16 mostra que as igrejas devem apoiar financeiramente os missionários: "A igreja de Filipos é elogiada por Paulo por seu apoio contínuo ao seu ministério." Isso demonstra a importância de prover recursos para quem trabalha na obra de Deus.

Tiago 2:15-17 adverte que a fé sem ações é inútil: "Se alguém tem necessidade e não lhe derdes o necessário, que proveito virá daí?" A igreja deve agir e ser um reflexo do amor de Cristo, ajudando aqueles que estão espalhando o Evangelho.

Essa falta de apoio contrasta com o que a Bíblia ensina sobre a responsabilidade da igreja em cuidar dos seus líderes. Em 1 Timóteo 5:17-18, Paulo escreve: "Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é pregar e ensinar. Pois a Escritura diz: 'Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal', e 'O trabalhador merece o seu salário'." Este versículo ressalta a importância de apoiar financeiramente aqueles que dedicam suas vidas ao ministério.

Além disso, a falta de generosidade para com aqueles que servem no ministério contraria o espírito de Atos 4:32-35, onde a comunidade cristã primitiva compartilhava tudo o que tinha, de modo que "não havia pessoas necessitadas entre eles". A igreja primitiva exemplificou uma verdadeira comunidade de fé, onde os recursos eram distribuídos de acordo com as necessidades, e isso incluía o sustento dos líderes e missionários.

Algumas denominações justificam a falta de apoio com divergências doutrinárias, mas muitas vezes essas divergências apenas servem como desculpa para não cumprir o que é claramente ensinado nas Escrituras. Em Romanos 14:1, Paulo aconselha: "Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos", enfatizando que a unidade e o amor entre os irmãos devem prevalecer sobre as diferenças doutrinárias.

A negligência em apoiar financeiramente pastores e missionários reflete uma falha em entender o chamado bíblico de cuidar da família da fé. Gálatas 6:10 nos lembra: "Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé." Essa passagem nos incentiva a priorizar o cuidado com aqueles que estão dentro da comunidade cristã, o que inclui, sem dúvida, os líderes que dedicam suas vidas ao serviço do Evangelho.

No Ministério Spring of Revival, entendemos que não se trata de algo novo ou de uma visão ministerial específica; nosso trabalho é para o corpo de Cristo como um todo. Nosso foco é fundamentar, edificar e pregar a salvação sempre que possível. E quando temos recursos, ajudamos financeiramente outras pessoas, seguindo o exemplo de generosidade que a Bíblia nos ensina.

Um exemplo recente disso ocorreu há cerca de seis meses, quando meu pastor na Noruega recebeu uma oferta de 8.000 euros de uma pessoa que nem o conhecia bem, e nem era cristã. Essa generosidade inesperada nos lembrou da soberania de Deus em suprir as necessidades do Seu povo, conforme escrito em Filipenses 4:19: "E o meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus." Mesmo aqueles que não são parte da fé podem ser usados por Deus para abençoar Seu povo.

Essa experiência também reflete o princípio de que a provisão de Deus pode vir de fontes inesperadas, assim como aconteceu com Elias, que foi sustentado por uma viúva em Sarepta, conforme registrado em 1 Reis 17:8-16. Embora a viúva não tivesse muitos recursos, ela foi movida a compartilhar o que tinha, e Deus multiplicou sua oferta.

Além disso, o fato de podermos ajudar financeiramente outros irmãos e irmãs na fé segue o mandamento de Gálatas 6:2: "Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo." Este versículo nos chama a cuidar uns dos outros, não apenas em palavras, mas também em ações concretas, como ajudar financeiramente aqueles que precisam.

Outro ponto importante é que, ao investir em missões e no trabalho do Reino, estamos seguindo o exemplo da igreja primitiva que, segundo Atos 2:44-45, "Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade." A igreja primitiva entendia a importância de compartilhar os recursos para o bem de todos, algo que buscamos aplicar em nosso ministério.

Esse tipo de generosidade não apenas abençoa aqueles que recebem, mas também glorifica a Deus, como ensinado em 2 Coríntios 9:11: "Vocês serão enriquecidos de todas as formas para que possam ser generosos em qualquer ocasião, e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ações de graças a Deus." Nossa missão é, portanto, não apenas receber, mas também compartilhar, para que o nome de Deus seja glorificado por meio de nossas ações.

Esse dinheiro foi investido em um ministério em Uganda, para comprar uma van que ajuda o pastor local a servir a comunidade. Por que ele conseguiu enviar esse dinheiro? Porque ele não tem uma estrutura que consome todos os recursos. Ele trabalha por conta própria, construindo e reformando imóveis, e por isso, qualquer dinheiro que recebe pode ser repartido com outras pessoas, investindo em salvação e edificação do corpo de Cristo.

Então, como seria um modelo perfeito? Não existe uma receita única para isso. No entanto, todo líder, plantador de igreja, membro de um conselho fiscal, tesoureiro ou presbítero deve fazer uma reflexão contínua: se você está em uma reunião da igreja e não está discutindo maneiras de salvar e edificar vidas, então você já foi, em certo grau, tomado pelo sistema institucional.

A missão principal da igreja deve ser sempre o foco em cumprir a Grande Comissão, como Jesus nos ordenou em Mateus 28:19-20: "Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos." Qualquer desvio desse propósito essencial pode indicar que a igreja está priorizando a estrutura organizacional em detrimento do seu verdadeiro chamado.

Além disso, o apóstolo Paulo nos lembra em Efésios 4:11-12 que os dons ministeriais foram dados "com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado". Se as discussões e decisões da liderança não estão focadas em edificar o corpo de Cristo e preparar os crentes para o serviço, a igreja pode estar desviando-se de sua missão.

Outro ponto crítico é a advertência em Apocalipse 2:4-5, onde Jesus repreende a igreja de Éfeso por ter abandonado o seu primeiro amor: "Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio." Esse versículo é um chamado para que a igreja e seus líderes se lembrem de sua verdadeira motivação – o amor por Deus e pelas pessoas – e não permitam que o sistema institucional sufoque esse propósito.

Finalmente, Tiago 1:27 nos dá uma definição clara do que é uma religião pura e imaculada: "A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo." Qualquer reunião ou discussão que não esteja focada em como a igreja pode manifestar esse cuidado prático e compassivo pelos necessitados deve ser reconsiderada.

Em relação à visão denominacional, uma questão que me foi levantada, no livro "Destronando o Bezerro de Ouro", entendemos que a denominação, por si só, pode se tornar parte do sistema do anticristo. E por que isso acontece? Porque ela muitas vezes assume o papel de uma entidade pessoal, onde a identidade e a missão da igreja são substituídas pela lealdade a um nome ou estrutura específica. Em alguns lugares, se você não faz parte daquela bandeira ou denominação, pode nem ser considerado um irmão na fé ou alguém digno de receber qualquer benefício daquele lugar.

Por exemplo, se você é um pastor ou missionário e não está afiliado àquela denominação, é provável que ela nunca se disponha a te ajudar financeiramente ou de outra forma. Eles só estarão dispostos a te ajudar se você se tornar parte daquele CNPJ, como se a comunhão em Cristo fosse secundária à afiliação institucional. Isso é uma distorção clara do ensinamento bíblico sobre a unidade do corpo de Cristo.

A Bíblia nos ensina que, em Cristo, somos todos um só corpo, independentemente de nossas afiliações denominacionais. Em 1 Coríntios 12:12-13, Paulo escreve: "Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois todos fomos batizados por um só Espírito para formar um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres; e a todos nós foi dado de beber de um único Espírito." Este versículo deixa claro que a verdadeira unidade na igreja não deve ser limitada por barreiras denominacionais.

Além disso, em Gálatas 3:28, somos lembrados de que "não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus". A insistência em que somente aqueles que pertencem a uma determinada denominação são dignos de receber ajuda ou de ser considerados irmãos em Cristo é contrária ao espírito deste ensinamento.

Outro ponto crucial é encontrado em João 13:35, onde Jesus disse: "Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros." O amor entre os crentes deve ser a marca distintiva dos seguidores de Cristo, e não a afiliação a uma instituição. Se a denominação se torna um filtro para o amor e a ajuda cristã, estamos nos afastando da verdadeira essência do evangelho.

Em 2014, minha esposa e eu viajamos para a Albânia sendo cristãos presbiterianos, e para uma missão específica. Apesar de a igreja não ter contribuído financeiramente para a nossa ida, Deus proveu tudo o que era necessário para que estivéssemos lá. Fomos calorosamente recebidos por missionários batistas, assembleianos, presbiterianos e de várias outras denominações. Tivemos momentos significativos, participamos de encontros edificantes e até fui convidado para pregar em algumas igrejas.

No entanto, em 2018, quando voltei à Albânia, desta vez sem estar vinculado à denominação presbiteriana, a recepção foi completamente diferente. Nenhum daqueles missionários, igrejas ou missões que nos haviam acolhido antes se dispôs a nos receber, exceto Najua Diba (falecida em 2021) e o casal Eduardo e Jane, membros da Missão Antioquia, que ainda permanecem na Albânia até os dias de hoje. Esta mudança na atitude das pessoas apenas confirma na prática o que venho dizendo sobre as divisões denominacionais e como elas podem obscurecer a verdadeira comunhão entre os crentes.

A Bíblia nos ensina que a unidade em Cristo transcende as barreiras denominacionais e culturais. Em Efésios 4:4-6, Paulo declara: "Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos." Este texto enfatiza que, em Cristo, somos parte de um único corpo, independentemente de nossas afiliações denominacionais.

Além disso, Romanos 12:5 reforça essa verdade ao dizer: "assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros." Quando as denominações começam a agir como se fossem independentes umas das outras, negando ajuda e acolhimento àqueles que não compartilham sua afiliação específica, estão falhando em reconhecer essa verdade fundamental.

Outro versículo que se aplica é 1 Coríntios 1:10, onde Paulo exorta: "Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, mas que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer." A divisão denominacional que leva à exclusão de outros irmãos na fé é um claro desvio do propósito de unidade que Cristo deseja para Sua igreja.

Essas experiências na Albânia são um triste exemplo de como as divisões denominacionais podem distorcer o verdadeiro espírito de unidade e amor cristão. Ao invés de se concentrar naquilo que nos une – a fé em Cristo – muitos acabam priorizando as diferenças institucionais, o que vai contra o ensino das Escrituras.

Quando uma denominação prioriza sua identidade institucional sobre o amor e a unidade do corpo de Cristo, ela corre o risco de se tornar uma parte do sistema do anticristo, pois coloca a estrutura humana acima da verdade espiritual que Jesus nos ensinou. O foco deve sempre ser em Cristo e na comunhão dos santos, não na preservação de um nome ou instituição.

Desafios na Gestão de Recursos nas Denominações Religiosas

Muitas denominações operam de uma forma que, na prática, acaba beneficiando apenas o líder ou um pequeno grupo dentro da instituição. Enquanto a congregação contribui fielmente com seus recursos financeiros, quem de fato desfruta desses recursos são, em muitos casos, os fundadores da igreja ou um círculo restrito de pessoas que ocupam posições de poder. Essa dinâmica pode criar uma desconexão profunda entre a comunidade de fiéis e a liderança, desviando o foco do propósito principal da igreja: servir e edificar as pessoas.

É claro que toda organização precisa de uma estrutura para funcionar. Decisões devem ser tomadas e a administração financeira é necessária para manter a igreja operando. Entretanto, o problema surge quando essa estrutura se torna um fim em si mesma, e o foco se desvia do bem-estar e crescimento espiritual das pessoas para a manutenção de uma organização que beneficia apenas alguns poucos.

A Prioridade das Pessoas sobre a Estrutura

A igreja, como corpo de Cristo, deve ser guiada por princípios de serviço e amor ao próximo. Jesus nos deu o exemplo máximo de liderança servil, onde o líder é aquele que serve. Em Mateus 20:26-28, Ele disse: "Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." Este princípio se aplica diretamente à maneira como os recursos da igreja devem ser utilizados: para servir a comunidade, e não para exaltar uma elite.

Além disso, Atos 4:32-35 nos dá um modelo de como a igreja primitiva administrava seus recursos: "Da multidão dos que creram, era um o coração e a alma; ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles necessitado algum, porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos; e se repartia a qualquer um que tivesse necessidade." Esse trecho mostra que a prioridade da igreja era garantir que ninguém entre eles passasse necessidade, refletindo uma comunidade profundamente comprometida com o bem-estar de todos os seus membros.

Hoje, muitas denominações enfrentam o desafio de manter um equilíbrio saudável entre a necessidade de administrar uma estrutura organizacional e a missão de servir as pessoas. Quando o foco se desvia para a manutenção de uma estrutura que apenas beneficia uma elite, a essência do ministério cristão é perdida. 1 Timóteo 6:10 nos adverte: "Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se transpassaram a si mesmos com muitas dores." Este versículo destaca o perigo de permitir que o desejo por poder e riqueza domine a administração da igreja, levando a uma erosão dos valores cristãos.

Portanto, é crucial que líderes, conselhos e congregações reflitam continuamente sobre como os recursos da igreja estão sendo utilizados. Efésios 4:11-12 nos lembra que "Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado." O objetivo dos recursos da igreja deve ser sempre edificar e capacitar seus membros para que possam cumprir o chamado de Cristo em suas vidas.

Em última análise, a igreja deve estar centrada nas pessoas e no serviço ao próximo, refletindo o amor e a compaixão de Cristo em todas as suas ações e decisões. Ao fazer isso, ela não apenas cumpre sua missão divina, mas também se fortalece como uma comunidade unida e verdadeiramente cristã.

Espero que esse conteúdo  nos faça refletir sobre essa realidade

Leonardo Lima Ribeiro 

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