quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Mantendo o Foco nas Pessoas em Meio à Expansão Institucional(L8)

 

(Estocolmo, Suécia)

À medida que a igreja se transforma em um empreendimento, surge a tentação de forçar a interpretação de que qualquer movimento ou ação dentro dela seja necessariamente um reflexo da vontade de Deus. No entanto, é fundamental reconhecer que Deus, em Sua soberania, utiliza os meios e instrumentos que Ele deseja, independentemente da nossa compreensão limitada. Ele pode, se assim quiser, usar um cachorro, um papagaio ou qualquer outro ser para transmitir Sua mensagem.

Isso nos ensina que ser usado por Deus não é, por si só, um sinal de aprovação divina ou de que aquilo está em conformidade com a Sua vontade perfeita. A permissão divina para o uso de certos meios ou pessoas não deve ser confundida com a Sua aprovação absoluta. Deus, em Sua infinita sabedoria, pode escolher utilizar qualquer criatura ou circunstância para cumprir Seus propósitos, mesmo que isso nos pareça incomum ou contrário às expectativas humanas.

Um exemplo claro disso é a história bíblica de Balaão, onde Deus utilizou uma mula para se comunicar com o profeta. O fato de Deus ter falado através de uma mula não só ilustra Seu poder absoluto sobre a criação, mas também nos lembra que Ele não está restrito às formas convencionais de comunicação. Se acreditamos literalmente nessa narrativa, devemos admitir que Deus pode, de fato, utilizar qualquer meio para fazer Sua vontade conhecida.

Essa compreensão se torna mais clara à medida que adquirimos experiência e discernimento espiritual. Com o tempo, certos padrões se tornam óbvios para aqueles que têm observado repetidamente a ação de Deus, tanto nos contextos corretos quanto nos distorcidos. Não se trata de seguir um protocolo rígido ou uma receita pronta, mas de desenvolver uma sensibilidade que nos permite distinguir entre o que é genuinamente divino e o que pode ser uma distorção humana.

Essa experiência nos ensina a não aceitar automaticamente que tudo o que acontece dentro da igreja é necessariamente um reflexo da vontade de Deus. Precisamos estar atentos para discernir entre o uso permissivo de Deus e a Sua vontade soberana, compreendendo que Ele opera de maneiras que muitas vezes desafiam nossas expectativas e conceitos pré-estabelecidos.

Isaías 55:8-9 “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.”

Esse versículo destaca a diferença entre os pensamentos e caminhos de Deus e os nossos, enfatizando a soberania divina em todas as coisas.

Números 22:28 "Então o Senhor abriu a boca da jumenta, e ela disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?"

Este versículo refere-se diretamente à história de Balaão, onde Deus usou uma mula para falar com o profeta, mostrando que Ele pode utilizar qualquer meio para comunicar Sua vontade.

1 Coríntios 1:27-29 "Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele."

Este trecho ressalta como Deus frequentemente utiliza os meios mais improváveis para cumprir Seus propósitos, desafiando a lógica e o orgulho humano.

Provérbios 16:9 "O coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos."

Este versículo fala sobre a soberania de Deus na vida humana, mostrando que, apesar dos planos humanos, é Deus quem guia e decide.

Romanos 8:28 "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

Aqui, Paulo lembra que Deus trabalha através de todas as coisas, mesmo as que parecem improváveis, para o bem dos que O amam.

Mateus 7:21 "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus."

Esse versículo alerta para a diferença entre ser usado por Deus e estar verdadeiramente alinhado com Sua vontade, destacando a importância de não confundir os dois.

Se considerarmos a narrativa bíblica de Balaão, acredito firmemente que Deus literalmente usou uma mula para se comunicar com um profeta. Essa história não é apenas uma alegoria ou uma metáfora, mas uma demonstração concreta do poder soberano de Deus, que pode utilizar qualquer elemento de Sua criação para cumprir Seus propósitos.

O profeta, geralmente reconhecido como o porta-voz escolhido por Deus, era o instrumento habitual através do qual a vontade divina era revelada ao povo. No entanto, neste episódio específico, Deus subverte as expectativas humanas ao falar diretamente por meio de uma mula, um animal que, pela lógica humana, não teria capacidade para tal comunicação.

Essa ação divina sublinha um ponto crucial: a soberania de Deus não está limitada pelas convenções humanas. Ele pode escolher meios inusitados para manifestar Sua vontade, desafiando nossas percepções e nos lembrando de que Seu poder transcende todas as nossas limitações. Ao falar com Balaão através da mula, Deus não apenas revelou Sua mensagem, mas também expôs a cegueira espiritual do profeta, demonstrando que até mesmo um animal sem razão poderia perceber a verdade divina que escapava ao entendimento do homem.

Esse relato nos ensina que devemos estar sempre abertos e atentos às maneiras inesperadas pelas quais Deus pode operar. Ele nos lembra que Sua autoridade não se submete às nossas expectativas e que, em Sua infinita sabedoria, Ele pode usar qualquer meio, seja um profeta ou uma simples criatura, para nos guiar e corrigir.

Números 22:28-30 "Então o Senhor abriu a boca da jumenta, e ela disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? E Balaão disse à jumenta: Porque zombaste de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou eu tua jumenta, em que cavalgaste toda a tua vida até hoje? Tive eu acaso o costume de fazer assim contigo? E ele respondeu: Não."

Este trecho descreve o momento exato em que Deus permite que a jumenta fale, evidenciando Sua capacidade de agir de maneira sobrenatural e surpreendente para comunicar Sua mensagem.

2 Pedro 2:15-16 "Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça, mas foi repreendido por sua transgressão; uma jumenta, uma besta de carga que não podia falar, falou com voz humana e refreou a loucura do profeta."

Este versículo do Novo Testamento reforça a história de Balaão e destaca como a jumenta, incapaz de falar naturalmente, foi usada por Deus para corrigir o profeta.

1 Coríntios 1:27-29 "Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele."

Este versículo ilustra o princípio de que Deus frequentemente usa o que é desprezado ou improvável aos olhos humanos para cumprir Seus propósitos e mostrar Sua soberania.

Salmo 115:3 "Mas o nosso Deus está nos céus; Ele faz tudo o que Lhe agrada."

Este versículo reafirma a soberania absoluta de Deus, que age conforme a Sua vontade, sem estar limitado pelas expectativas humanas.

Isaías 46:10 "Declaro o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; digo: O meu conselho permanecerá de pé, e farei toda a minha vontade."

Este versículo destaca a autoridade de Deus sobre a história e a certeza de que Seu propósito será cumprido, independentemente dos meios que Ele escolha usar.

Amós 3:7 "Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas."

Embora Deus normalmente fale através de Seus profetas, a história de Balaão mostra que Ele pode escolher outras formas, mesmo as mais inesperadas, para comunicar Sua mensagem.

Portanto, é essencial considerar esses aspectos com seriedade. Ao longo dos anos, por causa das experiências que acumulei, certas verdades se tornaram evidentes para mim. Há questões que, para alguém que ainda está tentando entender determinadas situações, podem parecer nebulosas ou difíceis de discernir. No entanto, para mim, essas questões já são claras.

Não se trata de seguir um protocolo rígido ou uma receita de bolo para discernir a realidade espiritual. Em vez disso, há coisas que se tornam óbvias com o tempo, simplesmente porque você já as presenciou repetidas vezes. A experiência oferece uma perspectiva que permite observar a dinâmica dos eventos se desenrolando, tanto quando eles seguem o caminho certo quanto quando se desviam. Essa repetição cria um entendimento mais profundo e intuitivo do que está acontecendo, tornando possível distinguir padrões e resultados com maior clareza.

Com o tempo, você passa a reconhecer o que é autêntico e o que não é, o que está alinhado com a vontade de Deus e o que é uma distorção humana. Essa capacidade de discernimento não é algo que se adquire de imediato; é cultivada através da observação constante e da reflexão sobre as experiências passadas, tanto as que foram bem-sucedidas quanto as que falharam. Esse processo nos ensina a ver além da superfície, a compreender a essência das coisas e a reconhecer quando algo está em sintonia com a verdade divina.

Vamos observar por exemplo uma situação típica:

Então, imagine uma pessoa que chega com R$ 5.000 e deseja ajudar um familiar necessitado, mas o pastor responde: "Não, você não pode fazer isso. Você tem que trazer o seu familiar para a igreja, para que Jesus possa mudar a vida deles, mas o seu dinheiro você não pode dar para eles. Você tem que colocar no gazofilácio."

Essa resposta ilustra uma prática comum em muitas igrejas, onde o dízimo e as ofertas são vistos como contribuições que devem ser exclusivamente destinadas à igreja. A lógica por trás dessa postura está enraizada em uma interpretação de que o dízimo é uma obrigação espiritual, uma entrega que pertence a Deus e, por isso, deve ser destinada à obra Dele, geralmente representada pela instituição e suas atividades.

As igrejas ensinam que o dízimo, conforme estabelecido nas Escrituras (como em Malaquias 3:10), deve ser entregue "na casa do tesouro", ou seja, na igreja, para que haja sustento para os ministérios e obras sociais. Dessa forma, os líderes eclesiásticos acreditam que permitir que os membros utilizem o dízimo para outras finalidades, como ajudar familiares diretamente, desviaria o propósito original dessa prática.

Além disso, essa postura também se baseia na ideia de que o ato de dizimar é um exercício de fé e obediência. Ao entregar o dízimo à igreja, o fiel demonstra confiança em Deus para prover em todas as áreas, inclusive nas necessidades da família. A expectativa é que, ao priorizar a contribuição à igreja, o fiel abrirá caminho para que Deus abençoe não apenas a vida dele, mas também a de seus familiares.

Contudo, essa prática pode gerar tensão entre os valores ensinados pela igreja e as necessidades práticas das famílias. Muitas vezes, as famílias enfrentam dificuldades financeiras imediatas que poderiam ser aliviadas com o dinheiro do dízimo, mas a doutrina institucionalizada não permite essa flexibilidade. Isso pode levar a um dilema moral e espiritual para o membro da igreja, que se vê dividido entre cumprir o ensinamento sobre o dízimo e atender às necessidades urgentes de seus entes queridos.

Essa rigidez na aplicação do dízimo também pode ser vista como uma forma de manter a estabilidade financeira da igreja, garantindo que os recursos necessários para a manutenção da instituição, o pagamento de funcionários, a realização de eventos e o financiamento de projetos missionários estejam sempre disponíveis. No entanto, isso pode, em alguns casos, obscurecer a essência do ensinamento cristão sobre amor ao próximo e cuidado com os mais vulneráveis, incluindo os próprios familiares.

O desafio, então, é encontrar um equilíbrio entre a fidelidade ao ensinamento sobre o dízimo e a responsabilidade pessoal e familiar. A igreja, como corpo de Cristo, deveria também promover a compreensão e a flexibilidade, ajudando seus membros a exercerem a caridade e o cuidado em todas as esferas da vida, sem negligenciar as necessidades básicas daqueles que estão ao seu redor. Afinal, a essência do evangelho é o amor ao próximo, e isso inclui, em primeiro lugar, aqueles que estão mais próximos de nós.

Malaquias 3:10: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal que dela vos advenha a maior abastança."
Esse versículo é frequentemente usado para apoiar a prática de trazer o dízimo para a igreja, entendida como a "casa do tesouro".

1 Timóteo 5:8: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente."
Esse versículo ressalta a importância de cuidar da família, sugerindo que a responsabilidade familiar é fundamental na vida cristã.

Mateus 23:23: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas."
Jesus critica os líderes religiosos por focarem no dízimo, enquanto negligenciam aspectos mais importantes da lei, como justiça e misericórdia.

Provérbios 3:9-10: "Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares."
Este versículo fala sobre a importância de honrar a Deus com nossos recursos, o que inclui o princípio do dízimo.

Lucas 11:42: "Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, a arruda, e todas as hortaliças, e desprezais a justiça e o amor de Deus. Importava praticar estas coisas, sem omitir aquelas."
Jesus novamente aponta que, embora o dízimo seja importante, ele não deve ser uma desculpa para ignorar a justiça e o amor ao próximo.

Gálatas 6:10: "Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé."
Este versículo incentiva os crentes a fazerem o bem, com ênfase na comunidade de fé, mas também aponta para a importância de ajudar a família e a comunidade imediata.

Atos 4:34-35: "Pois nenhum necessitado havia entre eles; porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade."

Este texto mostra como a igreja primitiva praticava a partilha de bens para atender às necessidades de todos, sugerindo um modelo de generosidade e cuidado mútuo.

Esse sistema, quando se inicia, tem como objetivo primordial servir às pessoas, utilizando a arrecadação para manter o local de encontro e de comunhão. Até aqui, essa prática está em linha com o propósito de proporcionar um espaço para a reunião e o fortalecimento da comunidade cristã. No entanto, com o tempo, esse sistema pode evoluir e assumir uma dinâmica própria, semelhante ao fenômeno descrito na história do bezerro de ouro.

Lembramos da narrativa bíblica em que o povo de Israel, após ter recebido joias e ouro dos egípcios como parte da sua saída do Egito, se vê no deserto. Deus havia feito com que os egípcios entregassem essas riquezas aos israelitas como um sinal de Sua provisão e favor (Êxodo 12:35-36). Essas riquezas, que eram um símbolo de bênção e libertação, acabaram sendo usadas de forma inesperada e questionável.

Quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber as tábuas da lei, ele se ausentou por 40 dias. Durante essa ausência, o povo de Israel ficou ansioso e desorientado. Arão, diante da pressão e do desejo do povo por um ídolo visível, pediu que eles entregassem as joias e o ouro que haviam recebido dos egípcios. Esses materiais preciosos foram então fundidos e moldados em um bezerro de ouro, que o povo passou a adorar como o deus que os havia tirado do Egito (Êxodo 32:1-4).

Esse incidente ilustra como algo originalmente destinado a um propósito de adoração e devoção pode, eventualmente, desviar-se e se transformar em um ídolo. O bezerro de ouro tornou-se um símbolo de uma adoração pervertida, substituindo a verdadeira adoração a Deus. A riqueza, que deveria ter sido usada para construir um lugar de adoração verdadeiro e para servir à comunidade, foi desviada para criar um ídolo que refletia uma visão distorcida de Deus.

Da mesma forma, um sistema de arrecadação dentro da igreja, que começa com a intenção de apoiar a obra de Deus e promover a comunhão, pode acabar se transformando em algo que tira o foco da missão principal. Quando a arrecadação e o uso dos recursos passam a servir interesses institucionais ou a manter uma estrutura em vez de atender às necessidades reais das pessoas, o sistema se desvia do seu propósito original e pode se tornar um "bezerro de ouro" moderno.

Essa transformação não ocorre de forma imediata, mas é um processo que pode ser desencadeado pela falta de vigilância espiritual e pela pressão institucional. O foco, então, se desloca de servir e cuidar das pessoas para sustentar a própria estrutura, perdendo de vista a essência do que significa viver a fé cristã genuína, que é o amor e o serviço ao próximo.

Quando o povo de Israel estava no deserto, Moisés subiu ao monte Sinai para se encontrar com Deus e receber as tábuas da lei. Durante os 40 dias em que ele esteve ausente, o povo começou a se sentir ansioso e inquieto, sem saber o que estava acontecendo e quando Moisés retornaria. Esse estado de insegurança e impaciência levou a um momento crítico de crise de fé.

Diante da pressão do povo, Arão, o irmão de Moisés e sacerdote, cedeu e solicitou que os israelitas entregassem suas joias e ouro, que haviam sido adquiridos dos egípcios durante a saída do Egito (Êxodo 12:35-36). Ele então fundiu esses materiais preciosos no fogo, uma ação que deveria ter sido uma preparação para um propósito mais elevado. No entanto, o resultado desse processo não foi o esperado; de forma inesperada e até mesmo irônica, um bezerro de ouro emergiu da fusão dos materiais (Êxodo 32:24).

Arão tentou justificar a criação do bezerro ao explicar a Moisés que o ouro foi simplesmente jogado no fogo e, "como por magia", saiu o bezerro. Esse relato parece quase uma tentativa de desviar a culpa, ignorando a realidade de que a fabricação do ídolo foi um ato deliberado de desobediência e uma manifestação de uma necessidade humana de ter um objeto tangível de adoração (Êxodo 32:24).

A partir desse momento, o bezerro de ouro tornou-se o foco da adoração do povo. Eles começaram a dançar e festejar ao redor do ídolo, proclamando que ele era o deus que os havia libertado da escravidão egípcia. Essa transição é significativa: aquilo que havia sido um símbolo de libertação e bênção tornou-se um objeto de idolatria, substituindo a verdadeira adoração a Deus.

Esse episódio revela como a ansiedade e a falta de fé podem levar a desviar o coração das pessoas do verdadeiro Deus. O bezerro de ouro, que foi inicialmente uma expressão de uma necessidade mal dirigida, acabou ocupando o lugar de Deus em seus corações e mentes. Ele se tornou um "deus substituto", substituindo a figura de Deus que os havia guiado e libertado.

Esse desvio é um alerta para todos sobre como a impaciência e a falta de confiança em Deus podem levar à criação de ídolos modernos, que tomam o lugar da verdadeira adoração. A busca por algo tangível e imediato pode fazer com que desviemos o foco do relacionamento genuíno com Deus, criando substitutos que, apesar de parecerem promissores, não têm a capacidade de preencher a verdadeira necessidade espiritual e de adoração.

O termo "anticristo" vem do grego "ἀντίχριστος" (antíchristos). A palavra "ἀντί" (antí) pode significar tanto "contra" quanto "em lugar de". Isso sugere que o anticristo não é apenas alguém que se opõe a Cristo, mas também alguém ou algo que tenta ocupar o lugar de Cristo. Assim, o bezerro de ouro se tornou o "deus" do povo, substituindo Deus em suas vidas.

E como foi que aquele "deus" foi formado? Arão pegou as riquezas do povo—ou, se trouxermos para os dias de hoje, o dinheiro das pessoas—, jogou no fogo, que simboliza a pressão sobre nossas vidas, a qual revela nossos corações, e o que saiu disso foi um ídolo.

Assim, a denominação se torna um ídolo quando não compreendemos o foco e o coração de Deus, que são as pessoas. E aí, se observarmos o contexto geral, veremos igrejas com 10 mil pessoas, gastando fortunas em decoração de eventos, mas que não pagam sequer R$ 3.000 ou R$ 4.000 de salário para um pastor, que às vezes nem trabalha diretamente com eles na denominação, mas que é um parceiro, um aliançado, alguém que está servindo no mesmo propósito.

Quando você se dirige ao pastor, ao conselho ou à diretoria de uma igreja—e não estou me referindo a uma igreja específica, mas sim a um fenômeno que pode ocorrer em várias congregações—e propõe uma votação para alocar, por exemplo, R$ 3.000 por mês para um indivíduo que desempenha um papel importante no ministério ou que enfrenta dificuldades financeiras, frequentemente a proposta é rejeitada.

Essa situação ocorre por diversas razões que refletem as complexidades e desafios da administração e das prioridades financeiras dentro das igrejas. Em muitos casos, a decisão de não aprovar tais propostas pode ser atribuída a vários fatores:

Prioridades Orçamentárias: As igrejas muitas vezes têm orçamentos rígidos e prioridades financeiras bem estabelecidas. Esses orçamentos são frequentemente direcionados para manter a infraestrutura da igreja, realizar eventos programáticos, e sustentar outros ministérios e atividades. Isso pode levar a uma resistência em desviar recursos para necessidades individuais, mesmo quando essas necessidades são legítimas.

Transparência e Procedimentos: Algumas igrejas têm procedimentos rigorosos para a alocação de fundos, com ênfase na transparência e na prestação de contas. A decisão de apoiar financeiramente um indivíduo pode ser vista como uma exceção a essas normas, levantando questões sobre precedentes e sobre a necessidade de uma revisão mais profunda das políticas.

Perspectivas Teológicas e Institucionais: A abordagem financeira de uma igreja pode ser influenciada por suas perspectivas teológicas e institucionais. Algumas congregações podem acreditar que o dinheiro deve ser investido em programas de alcance e em projetos que beneficiem a comunidade em geral, em vez de apoiar diretamente indivíduos. Essa visão pode levar a uma relutância em usar os recursos da igreja para subsídios pessoais.

Preocupações com a Equidade: Há uma preocupação com a justiça e a equidade ao lidar com as necessidades financeiras. A alocação de fundos para um indivíduo pode ser vista como injusta ou como criando um desequilíbrio entre os membros da congregação, especialmente se outras solicitações semelhantes não forem atendidas.

Fatores Administrativos e de Governança: As decisões financeiras nas igrejas são muitas vezes tomadas por comitês ou conselhos que avaliam as propostas com base em critérios estabelecidos. A votação pode ser influenciada por questões administrativas e pela necessidade de seguir os regulamentos internos, o que pode resultar em uma rejeição de propostas que não se alinham com a visão ou a estratégia financeira da igreja.

Esses fatores mostram como a gestão financeira e as decisões orçamentárias nas igrejas podem ser complexas e influenciadas por uma série de considerações práticas e teológicas. A rejeição de propostas para apoio financeiro individual não é necessariamente uma questão de falta de compaixão, mas pode refletir as múltiplas camadas de responsabilidades e decisões que envolvem a administração dos recursos da igreja.

Quando propostas de apoio financeiro para indivíduos são sistematicamente rejeitadas em igrejas—como quando se sugere, por exemplo, a alocação de R$ 3.000 por mês para alguém—isso pode refletir uma tendência mais ampla que afeta a forma como a igreja prioriza seus recursos e seu foco.

Desvio de Prioridades: Ao priorizar a manutenção e expansão da estrutura da igreja, os recursos são frequentemente direcionados para a construção de instalações, decoração de eventos e outras despesas administrativas. Esse foco na infraestrutura pode desviar a atenção das necessidades urgentes e pessoais dos membros da congregação. Quando o orçamento é rigidamente controlado para manter a estrutura da igreja, as oportunidades de ajudar diretamente aqueles que estão em necessidade são frequentemente limitadas. Isso pode criar um ambiente onde a prioridade é garantir que a instituição permaneça funcional e visível, em vez de se concentrar nas necessidades individuais e no bem-estar da comunidade.

Enfraquecimento do Cuidado Pastoral: A rejeição sistemática de propostas de ajuda financeira para membros pode enfraquecer a prática do cuidado pastoral, que é central no ministério cristão. Em vez de apoiar membros que podem estar enfrentando crises financeiras, dificuldades pessoais ou necessidades específicas, a igreja pode se concentrar em manter uma estrutura e programas que, embora importantes, não atendem diretamente às necessidades imediatas de indivíduos em sofrimento. Isso pode criar uma dissonância entre a missão espiritual da igreja e sua prática administrativa.

Cultura de Exclusividade: Quando o foco se desloca para a estrutura e para a manutenção de uma instituição, pode-se desenvolver uma cultura de exclusividade, onde apenas os projetos que visam a promoção e a expansão da igreja são priorizados. Isso pode levar a uma situação onde as necessidades individuais são vistas como secundárias ou menos importantes, especialmente se esses indivíduos não têm um impacto direto nas metas de crescimento da igreja. Tal cultura pode resultar em um ambiente onde o apoio direto e a solidariedade se tornam menos visíveis e menos valorizados.

Impacto na Comunidade: O foco exagerado na estrutura pode afetar negativamente a percepção da igreja na comunidade. Se a congregação percebe que a igreja está mais preocupada com sua própria manutenção do que com o bem-estar dos membros, isso pode criar um sentimento de alienação e desconexão. A verdadeira eficácia de uma igreja não é medida apenas pelo tamanho de suas instalações ou pela quantidade de eventos realizados, mas pela forma como ela atende às necessidades de seus membros e demonstra o amor e a compaixão de Cristo no dia a dia.

Prevenção de Inovação e Adaptação: Focar apenas na estrutura pode inibir a inovação e a adaptação que são necessárias para atender às necessidades emergentes da comunidade. Quando os recursos são constantemente redirecionados para manter uma infraestrutura existente, há menos flexibilidade para experimentar novas formas de ministério, de apoio comunitário e de envolvimento com aqueles que estão fora do círculo da congregação. A adaptação às necessidades reais da comunidade pode ser sacrificada em favor da preservação do status quo institucional.

O foco excessivo na estrutura e na manutenção da igreja pode levar a uma negligência das necessidades pessoais e comunitárias. Para que uma igreja seja verdadeiramente eficaz em seu ministério, é crucial que mantenha um equilíbrio saudável entre a gestão de seus recursos estruturais e a atenção às necessidades dos indivíduos e da comunidade que serve. Somente através dessa abordagem equilibrada a igreja poderá cumprir plenamente sua missão de cuidar e apoiar todos os seus membros, refletindo a essência do evangelho em suas ações e decisões diárias.

Quando falamos sobre o foco excessivo na estrutura da igreja, é importante entender que a questão não está no fato de haver um CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) para a denominação. Na realidade, em algum momento, será necessário registrar a instituição, tanto por questões legais quanto financeiras, como para receber doações e gerenciar recursos.

No entanto, o problema não é o CNPJ em si, mas sim a mentalidade que o acompanha. Quando menciono o CNPJ, estou me referindo à forma como a construção e a propagação da estrutura da denominação podem refletir e manifestar o ego humano. Em grego, o termo para ego é "ἐγώ" (egó), que significa "eu". O que ocorre é que, à medida que a denominação cresce, o "eu" de algumas pessoas—ou seja, o ego—começa a se manifestar de maneira mais pronunciada.

A questão central é que, conforme a denominação se expande, pode haver uma tendência para que a identidade e os interesses pessoais sejam exaltados. Isso acontece porque o foco passa a ser a própria instituição, sua expansão e manutenção, em vez de se concentrar nas necessidades e no bem-estar das pessoas. Quando a ênfase está na promoção da denominação em si, o ego de líderes e membros pode ser alimentado, e a preocupação com a estrutura e com a imagem institucional pode substituir a atenção dedicada às necessidades reais da comunidade.

Portanto, o problema não está em ter uma denominação registrada ou em possuir um CNPJ, mas na mentalidade que transforma a instituição em um objetivo em si mesma. Isso pode levar a uma situação em que o foco da igreja se desvia do propósito original de servir e cuidar das pessoas, priorizando em vez disso a promoção e a preservação da própria estrutura. A verdadeira missão de uma igreja deve sempre estar centrada no atendimento às necessidades dos indivíduos e no cumprimento do chamado de Deus para amor e serviço, não na promoção de uma identidade institucional ou na exaltação do ego de seus líderes.

Mateus 23:11-12: "O maior entre vocês deverá ser servo. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado."

Este versículo destaca a importância de servir aos outros em vez de buscar o destaque pessoal ou a exaltação.

Filipenses 2:3-4: "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros."

Paulo exorta os crentes a agir com humildade e a considerar as necessidades dos outros como prioridade.

Tiago 4:6: "Mas ele dá maior graça. Por isso diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes."

Este versículo fala sobre como Deus resiste ao ego e à soberba, mas oferece graça àqueles que são humildes.

Gálatas 5:13: "Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor."

Aqui, Paulo nos lembra que a verdadeira liberdade em Cristo deve ser usada para servir aos outros, não para promover interesses pessoais.

1 Pedro 5:2-3: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está sob seus cuidados, não por obrigação, mas de boa vontade, como Deus deseja; não para obter lucro desonesto, mas com zelo. Não sejam autoritários sobre os que lhe foram confiados, mas sejam exemplos para o rebanho."

Pedro instrui os líderes a pastorear com um espírito de serviço e exemplo, não buscando lucro ou controle.

Mateus 7:15: "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos como ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores."

Este versículo alerta sobre a aparência externa de instituições e líderes e a necessidade de discernir a verdadeira natureza de suas intenções.

Atos 20:35: "Em tudo o que fiz, mostrei a vocês que, trabalhando assim, é preciso ajudar os fracos, lembrando das palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: 'Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.'"

Paulo reforça a ideia de que o verdadeiro propósito é ajudar os necessitados e servir aos outros.

Que Deus te dê clareza de entendimento em nome de Jesus 

Leonardo Lima Ribeiro 


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