sábado, 9 de maio de 2020

Depois de perdoar, vire a página!

(Trollstingen, Noruega)

Quero convidar meus irmãos a refletirem sobre algo que tem me incomodado profundamente, algo que tem despertado em mim tanto tristeza quanto indignação em diversos momentos. Trata-se do crescente debate em torno do abuso religioso e do narcisismo, temas que tenho abordado em alguns dos meus textos com o objetivo de esclarecer as pessoas. Embora eu e minha esposa já tenhamos passado por experiências negativas e dolorosas, enfrentando situações de abuso religioso em alguns ministérios que participamos e lidando com indivíduos de caráter duvidoso, é importante reconhecer que a nossa própria escolha e busca por determinados ambientes também desempenha um papel nesse cenário.

É fundamental compreender que, muitas vezes, somos atraídos para esses ambientes por nossos próprios desejos, ambições e carências, que nos levam a lugares onde as promessas são feitas com segundas intenções. Portanto, é preciso assumir nossa parcela de responsabilidade ao nos envolvermos nessas congregações ou denominações. Não podemos simplesmente culpar os líderes abusivos sem antes avaliar nossas próprias motivações e expectativas.

A verdade é que os abusadores muitas vezes se aproveitam das feridas emocionais e da carência das vítimas. Eles podem identificar e explorar as vulnerabilidades das pessoas para manipulá-las e controlá-las. Muitas vezes, as vítimas de abuso podem ter experimentado traumas emocionais ou dificuldades pessoais que as deixam mais suscetíveis à manipulação por parte dos abusadores.

Os abusadores podem oferecer falsas promessas de amor, segurança ou conforto para atrair suas vítimas e ganhar sua confiança. Eles podem usar táticas como elogios excessivos, presentes ou atenção intensa para criar um vínculo emocional com a vítima e mantê-la sob seu controle. Ao explorar as necessidades emocionais não atendidas das vítimas, os abusadores podem exercer poder e controle sobre elas de maneira insidiosa e prejudicial.

As feridas mais comuns em pessoas que sofrem de abusos espirituais podem incluir:

Trauma emocional: O abuso espiritual pode causar danos emocionais profundos, incluindo sentimentos de culpa, vergonha, medo, ansiedade e depressão.

Perda de confiança: As vítimas de abuso espiritual muitas vezes perdem a confiança em si mesmas, nos outros e até mesmo na espiritualidade ou na religião que foram usadas como meio de abuso.

Confusão espiritual: O abuso espiritual pode causar confusão sobre questões espirituais e religiosas, levando a uma crise de fé ou a uma sensação de desconexão com a espiritualidade.

Manipulação da identidade: Os abusadores podem manipular a identidade das vítimas, distorcendo sua percepção de si mesmas, de Deus e do mundo ao seu redor.

Isolamento social: Muitas vezes, as vítimas de abuso espiritual são isoladas de amigos, familiares e comunidades de apoio, o que pode aumentar seu senso de solidão e desamparo.

Danos à autoestima: O abuso espiritual pode minar a autoestima das vítimas, levando a sentimentos de desvalorização, inadequação e autocondenação.

Culpa excessiva: As vítimas muitas vezes carregam uma carga de culpa injustificada, atribuindo a si mesmas a responsabilidade pelo abuso que sofreram.

Medo do julgamento divino: O abuso espiritual pode levar as vítimas a temerem o julgamento divino ou acreditarem que estão sendo punidas por seus supostos pecados ou falhas espirituais.

Portanto, é importante que as pessoas estejam cientes dessas dinâmicas e reconheçam os sinais de manipulação e abuso emocional. Buscar apoio e ajuda de pessoas confiáveis ​​e buscar recursos profissionais pode ser crucial para romper o ciclo de abuso e iniciar o processo de cura emocional.

Tenho observado, com tristeza, que muitas pessoas que saem feridas desses ambientes têm uma tendência marcante de reagir pulando para o extremo oposto. Em primeiro lugar, elas não refletem sobre como chegaram a esses lugares. Nossos próprios desejos, ambições e expectativas muitas vezes nos conduzem a esses ambientes onde as promessas são feitas com segundas intenções. Por isso, é essencial reconhecermos nossa parte nesse processo, o que facilita nossa libertação e cura.

Entendo que seja normal passar por um período de desilusão e desânimo após vivenciar situações de abuso, mas é importante darmos a nós mesmos o tempo necessário para a cura e, em seguida, seguirmos adiante. No entanto, tenho percebido uma tendência preocupante de algumas pessoas se fixarem no papel de vítima, alimentando a mágoa e a indignação, ao invés de buscarem a verdadeira cura e libertação em Cristo.

Essa postura de vitimismo não nos leva a lugar algum. Não podemos delegar a responsabilidade pela nossa vida a terceiros, sejam eles líderes abusivos, instituições religiosas ou qualquer outra pessoa. É necessário assumirmos a responsabilidade pela nossa própria jornada espiritual, perdoarmos a nós mesmos e aos outros, e buscarmos a cura em Cristo.

Entendo a profundidade das feridas e das dores que podem ser causadas por experiências de abuso religioso, pois eu mesmo as vivenciei. No entanto, decidi que meu foco será sempre em Cristo. Não vou permitir que as dores do passado me impeçam de prosseguir com o chamado que Deus tem para a minha vida. Por isso, quando compartilho sobre essas questões, meu objetivo é sempre apontar para Cristo como fonte de cura, perdão e libertação.

Hoje tenho disponibilidade para ajudar pessoas que passaram por esse tipo de abuso, acompanhamos e apascentamos essas pessoas e as conduzimos a cura através do amor de Cristo. 

Perdão e cura em Cristo:

Mateus 6:14-15: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas."

1 João 1:9: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça."

Responsabilidade pessoal:

Gálatas 6:5: "Porque cada um levará a sua própria carga."

Tiago 1:14-15: "Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte."

Confiança em Deus:

Provérbios 3:5-6: "Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas."

Filipenses 4:6-7: "Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus."

Precisamos expressar nossos sentimentos, mas após um período de reflexão, é importante mudar o foco e voltar a abordar assuntos mais positivos, como a fé em Jesus e os planos que Deus tem para nós. Devemos fazer isso com sensibilidade, entendendo que algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis quando discutimos tópicos delicados. Reconheço as dores alheias, mas não devemos nos prender a elas de forma a alimentar um ciclo de vitimismo. Nosso país precisa evoluir em diversos aspectos, incluindo o espiritual, que naturalmente influencia os demais. 

No entanto, culpar terceiros não resolve os problemas. Eu também tive dificuldades em minha criação, problemas familiares e falta de referências positivas em casa. Entretanto, aprendi que é possível superar essas adversidades. Conectei-me com um pastor que inicialmente parecia disposto a ajudar, mas logo começou a criticar minha jornada espiritual. Ao perceber que não concordaria com tal postura, ele se afastou. É lamentável, mas é importante reconhecer que existem indivíduos mal-intencionados, muitos dos quais ocupam posições de liderança. 

Sendo assim, isso não invalida a importância da autoridade legítima. Por exemplo, a Bíblia exorta a honrar os presbíteros e compartilhar com aqueles que nos instruem. Precisamos discernir entre líderes verdadeiros e falsos, pois isso afeta nossa jornada espiritual. No entanto, alguns líderes afirmam que a liderança não é mais necessária, o que é preocupante, pois as pessoas ainda precisam de orientação. Muitas buscam consolo em líderes populares, mas isso não substitui uma liderança autêntica. Infelizmente, algumas pessoas continuam presas em ciclos de dor e ressentimento. 

Elas se juntam a grupos que compartilham suas mágoas, mas isso não promove cura. Ao contrário, perpetua o ciclo de sofrimento. Devemos aprender com nossas experiências, mas não permitir que elas nos definam. Pessoas maduras enfrentam seus desafios com coragem e perdão, em vez de alimentar mágoas. É importante reconhecer que o perdão não significa aceitar o comportamento abusivo, mas libertar-se do ciclo de ressentimento. Homens, em particular, precisam assumir responsabilidade por suas famílias e tomar decisões sábias. Ser passivo e procrastinar só agrava os problemas. Devemos aprender com nossos erros e buscar orientação para crescermos e nos tornarmos pessoas melhores.

2 Timóteo 2:15: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade."

Efésios 4:14-15: "Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo."

Hebreus 13:17: "Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil."

1 Pedro 5:2-3: "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho."

Mateus 18:15: "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão."

Colossenses 3:13: "Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também."

Eu sempre vou tentar trazer você para entender o seguinte: você tem que olhar para Jesus e procurar pessoas espiritualmente saudáveis para ter comunhão. As doentes, você ajuda a levantar; as saudáveis, você tem comunhão para crescer. Procure líderes. Conheça o caráter do seu pastor. Não ande com pessoas que não são idôneas. Não ande com líderes que não são idôneos, porque a sua figura - não estou falando de reputação, estou falando de postura, de princípios, de valores - vão ser os seus valores, seus princípios vão ser comparados com os líderes que você diz estar junto.

Por exemplo, se você diz que eu sou seu pastor e as pessoas verem que eu sou uma pessoa de mau caráter, que não sou idôneo nas coisas que eu faço, elas vão dizer que você também não é, porque se vocês sabem daquilo que eu sou, daquilo que eu vivo, do meu mau-caratismo, da minha má fé, da minha falta de idoneidade e mesmo assim você compactua com a comunhão e com a minha liderança, mesmo que você até seja contra o que eu faço, você vai ser mal vista. 

E aquilo que a Bíblia diz sobre amizade. Minha esposa sempre fala que 'as más companhias corrompem os bons costumes'. Então é difícil a gente falar isso porque minha intenção não é atacar ninguém, mas pessoas realmente de má índole estão liderando igrejas, estão cometendo imoralidades sexuais, enganos, abusos religiosos, abusos espirituais, todo tipo de situação, e elas estão recebendo apoio, elas estão recebendo recursos, as pessoas estão investindo financeiramente porque elas estão oferecendo aquilo que elas estão procurando. 

Muitas vezes, os discursos sobre dinheiro se apoiam na ganância das pessoas. Dizem: 'Olha, se você der, você vai ficar mais rico'. Então eu estou apelando para a ganância da pessoa e não para a generosidade. Na maioria das vezes, as pessoas são enganadas por aquilo que elas mesmas desejam. Você pode ver esse apelo nas pessoas que são golpistas. Já li há uns 20 anos atrás um livro que falava sobre a mentalidade dos maiores golpistas do mundo. Eles dizem que o mais fácil de ser enganado é o ganancioso, porque ele fica cego quando vê uma oportunidade de ganho. 

Então todas essas coisas, hoje em dia, nos livros que leio, na meditação da palavra, estamos sempre buscando sabedoria para viver uma vida saudável na mente, na alma, e na espiritualidade. Para que a gente passe 10, 15, 20 anos buscando viver uma vida idônea e não jogue tudo na lata do lixo por causa de companhias. Quantas vezes eu falei para amigos meus: 'Você está insistindo em andar com determinadas pessoas e está se tornando como elas, sem perceber'. Aquilo que para você antes era errado, você começa a achar certo porque está todos os dias naquele meio. Então você começa a achar que o adultério não é tão ruim assim. Em alguns casos, ele é justificável. 

Depois você começa a perceber que, olha, não é tão assim, isso também não é tão fora e aquilo de repente se torna cauterizado na sua mente por causa do grupo de pessoas que você anda e insiste que aquilo é uma amizade. Na verdade, pode ser só uma conveniência, e em algumas situações, ainda pode ser dó, né? Tem pessoas que falam assim: 'Ah, mas eu tenho pena de fulano, ele está tão sozinho, eu ando com ele, mas é por pena, por dó'. É um sentimento ruim, a pena e a dó estão prejudicando a sua vida e não estão resolvendo a vida do outro, que está de repente numa condição que ele insiste em estar, porque na maioria das vezes são pessoas obstinadas com suas convicções erradas. 

Não ignore os princípios que você aprendeu antes de ser ferido, por causa das feridas. Trate as suas feridas, cuide do seu coração. Se for necessário, procure um terapeuta, procure um pastor, procure uma congregação, congregue. Vá para lugares onde tem pessoas saudáveis. Na maioria das vezes, as congregações que não são saudáveis, elas não são porque a congregação tem o perfil do líder. Então, se você encontrar uma igreja que tem um líder saudável, mesmo que tenha pessoas difíceis ali, provavelmente, a grande chance daquele grupo de pessoas ali serem pessoas saudáveis, pessoas que não são de uma má índole, perversas, competitivas, invejosas, ciumentas, porque tem a ver com a liderança. Falo isso relativo a liderança, porque os novos na fé provavelmente vão ter todo tipo de deformidade. 

Se você, por exemplo, for ver as pessoas que se aproximam de mim para que sejam pastoreadas, vai perceber que elas podem ter diferenças de personalidade. Cada um vem de um contexto. Mas, no geral, apesar do foco da mensagem ser o evangelho, elas vão se aproximar por causa do perfil. Então, se você chegar numa igreja, conheça a liderança, vá lá, conheça o pastor, peça para ele fazer uma visita na sua casa, participe dos primeiros eventos, converse com eles, conte de onde você vem, por que você veio e você vai perceber ali, eu acho que todos nós temos condição de, depois de tudo que passamos, as experiências negativas e positivas, de não cair nos mesmos erros.

Provérbios 13:20: "Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal."

1 Coríntios 15:33: "Não se deixem enganar: 'As más companhias corrompem os bons costumes'."

Tiago 4:4: "Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Se alguém quiser ser amigo do mundo, torna-se inimigo de Deus."

1 Coríntios 5:11: "Mas agora estou escrevendo a vocês que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer."

2 Timóteo 2:22: "Fuja das paixões da juventude e busque a justiça, a fé, o amor e a paz, juntamente com os que, de coração puro, invocam o Senhor."

2 Coríntios 6:14: "Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois que sociedade pode ter a justiça com a injustiça? Ou que comunhão a luz tem com as trevas?"

Diante do exposto, concluímos que a escolha das nossas companhias e líderes espirituais desempenha um papel fundamental em nossa jornada de fé e crescimento espiritual. A Palavra de Deus nos adverte sobre os perigos de nos associarmos com aqueles que não compartilham dos mesmos valores e princípios éticos, pois isso pode nos desviar do caminho da verdade e da santidade.

É essencial buscarmos comunhão com pessoas que nos ajudem a crescer espiritualmente, que nos inspirem a buscar a Deus de todo o coração e que nos desafiem a viver uma vida de retidão e santidade. Ao nos cercarmos de líderes e irmãos em Cristo que são íntegros e comprometidos com a Palavra de Deus, estaremos fortalecendo nossa fé e resistindo aos enganos e tentações que podem nos levar ao afastamento de Deus.

Portanto, que possamos ser sábios na escolha das nossas amizades e líderes espirituais, buscando sempre aqueles que nos conduzam mais perto de Deus e nos ajudem a viver uma vida que glorifique o Seu nome. Que possamos permanecer firmes na fé, vigilantes contra as artimanhas do inimigo, e comprometidos em seguir os ensinamentos de Jesus Cristo em todos os aspectos de nossas vidas.

Leonardo Lima Ribeiro 

Um comentário:

  1. Isso é mais comum do que imaginamos, se fôssemos a fundo na pesquisa de quem já sofreu tais abusos certamente não haveria HD suficiente para comportar os relatos!

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