(Geiranger, Noruega)
Durante toda a minha adolescência, mantive uma vida bem desregrada. Aos 16 anos, comecei a ceder aos excessos, e aos 18 já estava imerso em um padrão de consumo abusivo de álcool. O uso de drogas, especialmente maconha, foi uma escalada natural, culminando no meu envolvimento com cocaína aos 18 anos.
Saltarei diretamente para o momento da intervenção divina em minha vida. Dos 16 aos 29 anos, mergulhei em um ciclo vicioso de consumo excessivo de substâncias, vivenciando uma existência sem rumo. Parecia não haver saída para mim, até que, aos 28 anos, em 2008, o Espírito Santo tocou meu coração, transformando-o por completo.
Naquele ano, residia na Nova Zelândia, após ter passado por um tratamento no Brasil, na cidade de Franca, no Hospital Psiquiátrico. A internação durou 27 dias, durante os quais aguardei, expectante, por uma possível extensão de seis meses. No entanto, algo surpreendente ocorreu no vigésimo quinto dia, quando fui chamado pelo psiquiatra responsável.
O Doutor que não me lembro o nome, do Hospital Allan Kardec, em Franca, São Paulo, elucidou que, além do vício químico, minhas raízes emocionais também necessitavam de cuidado. Enfatizou que a desintoxicação seria apenas o primeiro passo; os verdadeiros desafios residiam em minhas batalhas emocionais. Essa abordagem, posteriormente, tornou-se tema recorrente em meus vídeos e discursos, onde compartilho minha jornada de transformação em Cristo.
Após receber alta, decidi seguir para a Nova Zelândia em busca de um recomeço. Já possuía algum domínio do inglês, adquirido durante minha estadia no Canadá, e planejava permanecer na Nova Zelândia por seis meses, com a possibilidade de estender esse período. Durante esse tempo, não experimentei recaídas em relação ao consumo de drogas, mas voltei a me entregar ao álcool com a mesma intensidade prévia à internação.
Este relato apenas arranha a superfície dos distúrbios emocionais, psiquiátricos e psicológicos que permeavam minha existência. Os profissionais de saúde mental frequentemente destacavam que o vício era uma mera fuga, e que o verdadeiro caminho para a cura residia na exploração e compreensão das minhas emoções e pensamentos.
Na Nova Zelândia, porém, os velhos demônios retornaram com força total: depressão, ansiedade, euforia e ataques de pânico assolavam minha mente. Recordo-me vividamente de uma ocasião, enquanto navegava pelo Orkut, quando deparei-me com o perfil de uma conhecida de Ribeirão Preto. Uma foto publicada despertou minha atenção: ali estava um antigo colega da faculdade de Medicina veterinária.
A partir desse encontro virtual, fui informado sobre a conversão dele e de outros amigos em uma igreja local. Os relatos sobre suas transformações e o impacto de Cristo em suas vidas foram como uma luz em meio às trevas que me envolviam.
Decidi, então, regressar ao Brasil em busca de uma comunidade espiritual que pudesse oferecer suporte diante da minha luta contra a depressão e os desafios emocionais. Essa jornada de busca espiritual e cura interior culminou em minha decisão de frequentar uma igreja local.
Sara Nossa Terra foi o local onde finalmente encontrei o Evangelho explicado de maneira clara e convincente, tocando profundamente meu coração e transformando minha vida. Decidi me entregar completamente a Cristo, sendo batizado e iniciando minha jornada nos caminhos de Deus.
No entanto, por conta de circunstâncias pessoais e fraquezas próprias, acabei me envolvendo em relacionamentos mesmo dentro da igreja, por eu ainda não estar apto por devido as minhas inconstâncias emocionais acabei novamente saindo do caminho correto. Tinha iniciado um negócio de representação de energéticos, e voltado para a faculdade de Medicina Veterinária, e voltei a morar sozinho. Dentro desse relacionamento, comecei novamente a sair para beber e me drogar. Realizei uma viagem para Fortaleza, onde percebi que as coisas tinham realmente saído do controle. Ao retornar, afundei-me novamente, afastando-me aos poucos da igreja.
Essa vez, meu afastamento foi acompanhado por uma situação deplorável no uso de drogas, onde muitas das experiências vividas se perderam na névoa do vício. Por vezes, passava-se dias sem ter a noção de sua passagem, em um apartamento que minha família me deu. Mudei-me desse apartamento para outro, também dado pela minha família, enquanto alugava o anterior. Durante esses períodos, perdi completamente a noção do tempo e das atividades diárias.
Lembro-me claramente de um momento em que, tomando banho em meu apartamento, uma voz interior, que reconheci como a do Espírito Santo, insistia para que eu fosse à casa de minha mãe e permanecesse lá. Mesmo sem entender completamente essa instrução, entrei no carro e segui em direção à casa dela. Ao chegar lá, a situação só piorava. Permaneci por algum tempo na casa de minha mãe, enquanto a situação se deteriorava ainda mais.
Fiquei confinado em seu quarto por um período que pareceu interminável, quinze longos dias mergulhado em um turbilhão de pensamentos sombrios e angústia incontrolável. Foi então que, em meio à escuridão que me envolvia, conheci uma pessoa que se tornaria um catalisador para o meu declínio ainda maior: um traficante local.
Ele oferecia suas mercadorias na porta da casa da minha mãe, uma tentação que se revelou difícil de resistir. Comprava drogas, mergulhando mais fundo em um abismo de autodestruição. Logo, vi-me incapaz de manter-me funcional. Meus compromissos foram sendo deixados de lado, meu trabalho abandonado.
Desesperado, busquei amigos em busca de uma solução para minha angústia. Propostas de ajuda surgiram, mas eu já estava tão imerso em meu próprio desespero que mal conseguia enxergar uma saída. Era como se estivesse afundando em um pântano de vício e desespero, incapaz de encontrar uma saída.
Enquanto isso, os sinais de declínio se tornavam cada vez mais evidentes. Minha saúde física e mental sofria um declínio acentuado, refletido em um emagrecimento significativo e alucinações perturbadoras. Lembro-me vividamente de um episódio em que vi objetos se movendo diante de mim, uma manifestação clara do estado caótico da minha mente.
Um traficante, cujas mercadorias alimentavam meu vício, foi o mensageiro de um aviso sombrio: minha vida estava por um fio. Foi um alerta que ecoou profundamente em minha alma, despertando um arrependimento doloroso e uma súplica silenciosa por misericórdia divina.
Naquele momento de desespero, experimentei uma sensação de renovação, uma luz no fim do túnel em meio à escuridão que me envolvia. Foi como se uma mão invisível tivesse me erguido das profundezas do abismo, oferecendo-me uma segunda chance de vida. No entanto, mesmo diante desse milagre, eu hesitei em abandonar meus velhos hábitos. Apeguei-me à minha rotina autodestrutiva, incapaz de compreender plenamente a magnitude da graça que me foi concedida. Então, uma oportunidade surgiu, uma chance de recomeço em Porto de Galinhas, Pernambuco.
Então, com 25 quilos a menos eu estava deitado na cama, recordo-me claramente de estar com o notebook no colo, assistindo a alguns vídeos. Naquele momento, eu estava sofrendo alucinações; via fotos das pessoas nos vídeos, mas essas imagens eram estáticas, não vídeos propriamente ditos. Lembro-me distintamente das palavras do traficante, alertando-me para agir com cautela, pois meu corpo começaria a se contrair quando a overdose se aproximasse, e isso significaria o fim.
E foi exatamente o que aconteceu: comecei a sentir minhas pernas contraindo, começando pelos pés e subindo pelo tronco até o pescoço. Quando meu rosto começou a se contrair, como ele havia previsto, pensei que era o fim. No entanto, um profundo arrependimento tomou conta de mim e, em um impulso, clamei por misericórdia ao Senhor, pedindo uma segunda chance, pois não queria morrer.
Foi então que toda a sensação de câimbra e contração que havia tomado meu corpo começou a retroceder. Acredito que, naquele momento, a morte estava prestes a me levar, como se o Anjo da Morte estivesse presente, mas meu pedido de socorro a Jesus reverteu aquela situação. Foi um momento de restauração incrível, onde a morte perdeu sua presa sobre mim.
Curiosamente, quando finalmente me senti restabelecido, sentei-me na cama, com uma cerveja gelada na mesa ao meu lado, acendi um cigarro e continuei bebendo, como se nada tivesse acontecido. Era como se eu estivesse insensível ao milagre que acabara de ocorrer. Nos dias seguintes, continuei bebendo e usando drogas, sem uma compreensão real do que havia acontecido.
E então, de repente, surgiu a oportunidade de ir para Porto de Galinhas. Não tenho ideia de como consegui comprar a passagem e lidar com todas as questões práticas, estando em um estado tão debilitado. Meus pais, possivelmente influenciados pelo Espírito Santo, permitiram que eu partisse, mesmo diante de um cenário tão sombrio. Ao chegar em Porto de Galinhas, encontrei um amigo com um negócio promissor e, embora ele não soubesse da minha situação, acreditei na oportunidade como uma possível salvação. Então, embarquei nessa jornada, mesmo estando fisicamente e emocionalmente abalado.
Esse amigo ofereceu-me a oportunidade de se juntar a ele em um empreendimento promissor. Era a oportunidade de escapar do ciclo vicioso que me aprisionava, mas, mais uma vez, minha determinação foi enfraquecida pela influência devastadora das drogas. Apesar dos meus esforços para mudar minha vida, percebi que estava numa encruzilhada. Precisava desesperadamente de uma mudança, mas parecia incapaz de dar o primeiro passo em direção à sobriedade e à redenção. Foi então que, num momento de clareza, decidi buscar ajuda divina.
Encontrei refúgio em uma igreja local, onde fui acolhido pelo diácono Amaro. Sob sua orientação amorosa, iniciei uma jornada de cura espiritual e renovação. Foi um processo árduo e doloroso, marcado por desafios e recaídas, mas, com o apoio da comunidade da igreja e minha fé inabalável, a condição que a graça de Deus me forneceu, encontrei força para superar a maior parte das minhas deformidades e conflitos internos.
Todos os dias, de segunda a sexta-feira, às 5 da manhã, iniciava-se a reunião. Encontrei um apartamento cerca de uma hora a pé, pois estava sem carro em Porto de Galinhas. Pontualmente às 4:00 da manhã, partia de casa em direção à Igreja Presbiteriana de Porto de Galinhas, onde participava da reunião de oração das 5 às 6. Após o término da reunião, retornava para casa. O condomínio onde estava hospedado oferecia área de lazer com churrasqueira e piscina. Era frequente adquirir cerveja e cigarros para consumir após a reunião.
Um dia, durante esses encontros pós-reunião, conheci um grupo de pessoas de São Paulo. Em meio a conversas amigáveis, um deles, com origens italianas, brincou sobre minha mudança de hábitos desde que comecei a frequentar a igreja. Gradualmente, fui me afastando dos antigos padrões. Mesmo ao comprar cerveja e cigarros, após a reunião, percebia que algo havia mudado. O gosto já não era o mesmo, como se algo dentro de mim estivesse se transformando.
Numa reviravolta surpreendente, acabei me envolvendo cada vez mais com a igreja local. Deixei para trás os velhos hábitos e até mesmo desfiz uma sociedade que havia estabelecido anteriormente. Anos mais tarde, já casado, busquei reconciliação com aqueles com quem havia me desentendido, mas nem todos estavam dispostos a perdoar.
Essas experiências me fizeram refletir sobre o perdão e o peso do passado em nossas vidas. Embora não seja possível voltar atrás, reconheço o valor do perdão e da libertação que ele proporciona. A jornada espiritual que empreendi desde então foi marcada por encontros providenciais e transformações profundas.
Nessa época, fui acolhido por um irmão na fé, Amaro, um pescador local que se tornou uma verdadeira bênção em minha vida. Seu apoio e orientação foram fundamentais para minha caminhada espiritual. Através dele, compreendi a amplitude do amor de Deus, capaz de alcançar mesmo os mais perdidos e desgarrados.
Hoje, olho para trás e vejo como Deus usou cada pessoa e cada experiência para me conduzir a um novo caminho. Sou grato pela transformação que Ele operou em minha vida, tirando-me da escuridão do pecado e conduzindo-me a uma vida com propósito e significado. Sua graça e amor são reais, e sou testemunha viva disso em minha própria história.
Depois disso muita coisa aconteceu, e os detalhes serão contados em um livro no futuro.
Hoje, olho para trás e vejo o quão longe cheguei desde aqueles dias sombrios. Sou grato pela segunda chance que me foi concedida e pela oportunidade de viver uma vida livre das correntes do vício. Minha história é um testemunho do poder transformador da fé e da redenção, e espero que possa inspirar outros a encontrarem sua própria jornada de cura e renovação.
Se olharmos para os relatos que compartilhei, é evidente como a narrativa demonstra a dependência total da graça de Deus. Em cada situação, desde os momentos de afastamento da fé até os períodos mais sombrios de vício e desespero, não há nada que sugira mérito próprio ou capacidade de saída por conta própria.
Desamparo nas Drogas: Eu descrevo como, mesmo com todas as tentativas de sair do vício, acabei ainda mais profundamente envolvido. Isso ilustra a incapacidade humana de se libertar de suas próprias correntes.
O Chamado de Deus: Mesmo quando tudo parecia perdido e a morte parecia iminente, é perceptível como o meu pedido de socorro não veio de uma posição de retidão ou mérito próprio. Eu estava completamente entregue ao vício, mas o clamor por ajuda veio como um reconhecimento da sua completa incapacidade de se salvar.
Provisão Divina: A oportunidade de recomeçar em Porto de Galinhas, o convite para um novo empreendimento e até mesmo a jornada até lá são todos exemplos da provisão divina. Não havia mérito ou capacidade própria em qualquer uma dessas situações, mas sim uma intervenção divina que abriu caminhos onde não havia saída.
Arrependimento e Restauração: Mesmo após receber a segunda chance, você reconhece que continuou a cair nas armadilhas do vício. Isso demonstra como a libertação e a restauração não foram conquistadas por esforço próprio, mas foram presentes da graça de Deus, que agiu apesar da sua fraqueza e falha contínuas.
Em resumo, meu testemunho destaca a realidade bíblica de que "não há um justo, nem um sequer" (Romanos 3:10) e que "toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto" (Tiago 1:17). Minha história é um testemunho poderoso da graça de Deus que opera mesmo nas situações mais desesperadoras e nas vidas mais fracas.
Leonardo Lima Ribeiro
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