Mateus 5: O Início do Sermão do Monte
Contexto Histórico e Literário
O Sermão do Monte (Mateus 5–7) é um dos discursos mais importantes de Jesus. Ele ocorre logo após Jesus chamar seus primeiros discípulos (Mt 4.18-22) e anunciar o Reino de Deus (Mt 4.17). O monte representa uma tipologia de Moisés no Sinai, sugerindo que Jesus é o novo legislador messiânico. Ele fala não com base na Lei mosaica apenas, mas com autoridade divina.
Mateus 5.1-2 – Introdução
"Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte; e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:"
"Subiu ao monte": ecoa Moisés no Sinai (Êx 19.3). Os montes na Bíblia são lugares de revelação divina.
"Assentou-se": postura típica de um mestre judeu. Sugere autoridade docente.
"Discípulos": mais do que os Doze; o termo inclui todos os que desejam seguir seus ensinamentos.
Mateus 5.3-12 – As Bem-Aventuranças
Essas declarações (μακάριοι, makarioi, "bem-aventurados") expressam uma inversão radical dos valores humanos comuns. Jesus declara felizes os que, à vista do mundo, parecem os menos favorecidos.
v.3 – “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”
"Pobres em espírito": não apenas economicamente desfavorecidos, mas humildes, dependentes de Deus.
Presente ("é"): o Reino já começou (realidade inaugurada).
v.4 – “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.”
Refere-se a lamento por pecado e injustiça. Ligação com Isaías 61.2.
v.5 – “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.”
"Mansos" (πραεῖς, praeis): os humildes, não violentos. Citação do Salmo 37.11.
v.6 – “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”
Fome por justiça (δικαιοσύνη, dikaiosynē): busca pela retidão, tanto pessoal quanto social.
v.7-12 – misericordiosos, puros de coração, pacificadores, perseguidos...
Jesus valoriza qualidades que não são celebradas pela sociedade romana ou judaica dominante.
Promessas escatológicas: serão consolados, verão a Deus, terão o Reino.
Mateus 5.13-16 – Sal e Luz
Metáforas para a identidade e missão dos discípulos no mundo.
Sal da terra: preservação e sabor. Discípulos impedem a corrupção espiritual.
Luz do mundo: refletem a luz divina (cf. Isaías 49.6).
Brilhe vossa luz: as boas obras devem glorificar o Pai.
Mateus 5.17-20 – Cumprimento da Lei
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir.”
Cumprir (πληρόω, plēroō): dar pleno sentido, completar a intenção original.
Jesus não abole a Lei, mas redefine sua aplicação à luz do Reino.
v.20: justiça superior à dos fariseus → justiça do coração, não apenas de ações externas.
Mateus 5.21-48 – Seis Antíteses
"Ouvistes que foi dito... Eu, porém, vos digo"
Jesus interpreta a Lei com autoridade messiânica. Ele não contradiz a Torá, mas revela sua intenção mais profunda.
1. Ira (v.21-26) – homicídio começa com o desprezo interior.
2. Adultério (v.27-30) – desejo impuro já viola a santidade.
3. Divórcio (v.31-32) – protege a mulher, restaura a dignidade do casamento.
4. Juramentos (v.33-37) – a verdade deve ser norma constante.
5. Vingança (v.38-42) – não resistir ao mal com violência.
6. Amor aos inimigos (v.43-48) – ponto culminante da ética do Reino.
Mateus 6: A Justiça no Reino de Deus
Mateus 6.1-18 – A Piedade Secreta
Jesus critica a prática religiosa hipócrita, centrada na aparência.
v.1 – Princípio geral: "guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens..."
"Justiça" aqui = atos religiosos: esmolas, oração, jejum.
v.2-4 – Esmolas
Não tocar trombeta (provável hipérbole): não buscar aplauso.
"Pai em secreto": ênfase na intimidade com Deus.
v.5-15 – Oração
Não repetir vãs repetições como pagãos (v.7): não é a quantidade de palavras que move Deus.
Pai Nosso (v.9-13): modelo de oração centrada em Deus e nas necessidades humanas básicas:
Santificação do nome de Deus
Vinda do Reino
Pão diário (dependência)
Perdão mútuo (condicionalidade destacada nos v.14-15)
Livramento do mal
v.16-18 – Jejum
Mais uma vez, foco na motivação: para Deus, não para os homens.
Mateus 6.19-34 – Tesouro, Olhos e Ansiedade
Jesus orienta os discípulos a confiar totalmente no cuidado de Deus.
v.19-21 – Tesouros no céu
A verdadeira segurança está em Deus, não em bens temporais.
v.22-23 – Olho como lâmpada
Olho bom (generoso) vs. olho mau (invejoso). Implica em visão espiritual saudável.
v.24 – Dois senhores
Deus e Mamom (riqueza personificada). Impossível servir a ambos.
v.25-34 – Não andeis ansiosos
Deus cuida dos lírios e dos pardais. Prioridade: Reino de Deus.
v.33: "Buscai primeiro o seu Reino e a sua justiça..."
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