MATEUS 3 – O Ministério de João Batista
Contexto histórico:
João Batista surge como último profeta do Antigo Testamento, fazendo a ponte com o Novo.
Ele prega no deserto da Judeia, lugar associado a purificação e preparação espiritual.
O povo judeu esperava o Messias libertador, e João aparece como “voz do que clama no deserto” (Is 40:3).
O batismo era um ritual de purificação, mas João dá um novo sentido: arrependimento em vista da chegada do Reino.
v.2 – “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus.”
Grego: metanoeite (μετανοεῖτε)
Verbo no imperativo presente, indicando ação contínua → “continuem se arrependendo”. 👉 Metanoia não é só tristeza pelo pecado, mas mudança de mente, direção, propósito.
v.11 – “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.”
A conjunção kai (καὶ) → pode ser lida como "e" ou "até mesmo".
“Espírito Santo e fogo” pode apontar para:
Purificação/avivamento (como em Atos 2), ou
Juízo (como nos versículos seguintes, sobre a pá e o fogo consumidor)
MATEUS 4 – A Tentação e o Início do Ministério de Jesus
Contexto histórico:
Jesus é levado ao deserto pelo Espírito após o batismo → um teste de identidade messiânica.
O deserto era lugar de provação e encontro com Deus (Israel ficou 40 anos lá; Moisés 40 dias).
As tentações se conectam com três áreas: necessidades físicas, orgulho e poder — ecos de Gênesis 3 e da queda do homem.
v.1 – “Foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto...”
Verbo grego: anēchthē (ἀνήχθη) – aoristo passivo de anagō → “foi conduzido”
Indica uma ação divina intencional, não algo casual. O Espírito levou Jesus para ser testado.
v.4 – “Nem só de pão viverá o homem...”
Citação de Deuteronômio 8:3 → Jesus usa a Palavra como arma espiritual, em grego: gegraptai (γέγραπται), “está escrito” – perfeito passivo, indicando algo que foi escrito e permanece válido.
v.17 – “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus.”
Mesmo verbo do capítulo 3: metanoeite → usado por Jesus como João, mostrando continuidade da mensagem profética.
Conexão entre Mateus 3 e 4:
Tema Mateus 3 Mateus 4
Identidade Jesus é confirmado como Filho Satanás tenta questionar isso
Arrependimento João prepara o povo Jesus chama ao arrependimento
Espírito Santo Desce no batismo Conduz ao deserto
Palavra João prega com autoridade Jesus combate com a Escritura
O Reino de Deus começa com arrependimento e continua com provação e fidelidade.
O deserto é lugar de confronto, mas também de formação espiritual.
A verdadeira autoridade de Jesus é demonstrada não pelo poder imediato, mas pela submissão à vontade do Pai.
MATEUS 3 – O Ministério de João Batista (expansão)
v.3 – "Voz do que clama no deserto"
Citação direta de Isaías 40:3 (LXX): phōnē boōntos en tē erēmō (φωνὴ βοῶντος ἐν τῇ ἐρήμῳ)
"Deserto" (erēmos) tem carga simbólica:
Lugar de purificação
Lugar onde Deus fala (Êxodo, Elias, Israel)
Indica que o Reino não começa no templo, mas no deserto
João Batista como figura profética
Sua vestimenta de pelo de camelo e cinto de couro (v.4) ecoa Elias (2 Rs 1:8), o profeta esperado antes do Messias (Malaquias 4:5).
Ele é o precursor, preparando o povo com batismo de arrependimento, algo incomum para judeus (batismo era mais comum para prosélitos gentios).
v.10 – "O machado já está posto à raiz das árvores"
Uma imagem de juízo iminente
Gramaticalmente: keitai (κεῖται) – “está colocado” no presente indicativo, mostra urgência: o tempo do arrependimento é agora.
v.12 – “A pá está em sua mão... queimará a palha com fogo que nunca se apaga”
Refere-se ao Messias como juiz, não só Salvador
O fogo aqui é símbolo de purificação e julgamento eterno
A separação entre trigo e palha remete ao juízo escatológico.
MATEUS 4 – Tentação e o começo do Reino (expansão)
v.2 – “Jejuou quarenta dias e quarenta noites”
Ecoa:
Moisés no Sinai (Êx 34:28)
Elias no Horebe (1 Rs 19:8)
Israel no deserto por 40 anos
Jesus está revivendo e superando a história de Israel e dos profetas.
Três tentações – paralelos e simbolismo:
Tentação Texto bíblico Significado
Pão (v.3-4) “Transforma estas pedras...” Teste da confiança em Deus para as necessidades básicas
Pináculo do templo (v.5-7) “Lança-te daqui abaixo...” Tentação de testar a fidelidade de Deus
Reinos do mundo (v.8-10) “Te darei tudo se me adorares” Tentação de atalho para glória sem cruz
Cada resposta de Jesus vem de Deuteronômio 6–8, textos que tratam da fidelidade de Israel no deserto → Ele é o novo Israel, fiel onde o antigo falhou.
v.16 – “O povo que jazia em trevas viu grande luz”
Citação de Isaías 9:1-2 → refere-se à Galileia dos gentios, uma região desprezada, mas agora alvo da revelação messiânica
Jesus começa ali o ministério, quebrando o padrão religioso tradicional (Jerusalém)
v.19 – “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”
"Vinde após mim" (deute opisō mou – Δεῦτε ὀπίσω μου) era um convite de discípulo para mestre → Jesus está tomando a iniciativa, algo raro na cultura rabínica.
"Pescadores" – ecoa profecias como Jeremias 16:16, onde Deus diz que enviará pescadores para trazer o povo de volta
Cristologia implícita: Jesus como o novo Israel, novo Moisés, novo Elias
Teofania trinitária no batismo: Pai (voz), Filho (Jesus), Espírito (pomba)
O poder da Palavra de Deus – usada como arma contra o diabo
O Reino começa com confronto, não com glória — primeiro o deserto, depois a cruz
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