quinta-feira, 10 de abril de 2025

O ministério de João Batista (Mateus 3 e 4)

 


MATEUS 3 – O Ministério de João Batista

Contexto histórico:

João Batista surge como último profeta do Antigo Testamento, fazendo a ponte com o Novo.

Ele prega no deserto da Judeia, lugar associado a purificação e preparação espiritual.

O povo judeu esperava o Messias libertador, e João aparece como “voz do que clama no deserto” (Is 40:3).

O batismo era um ritual de purificação, mas João dá um novo sentido: arrependimento em vista da chegada do Reino.

v.2 – “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus.”

Grego: metanoeite (μετανοεῖτε)

Verbo no imperativo presente, indicando ação contínua → “continuem se arrependendo”. 👉 Metanoia não é só tristeza pelo pecado, mas mudança de mente, direção, propósito.

v.11 – “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.”

A conjunção kai (καὶ) → pode ser lida como "e" ou "até mesmo".

“Espírito Santo e fogo” pode apontar para:

Purificação/avivamento (como em Atos 2), ou

Juízo (como nos versículos seguintes, sobre a pá e o fogo consumidor)

MATEUS 4 – A Tentação e o Início do Ministério de Jesus

Contexto histórico:

Jesus é levado ao deserto pelo Espírito após o batismo → um teste de identidade messiânica.

O deserto era lugar de provação e encontro com Deus (Israel ficou 40 anos lá; Moisés 40 dias).

As tentações se conectam com três áreas: necessidades físicas, orgulho e poder — ecos de Gênesis 3 e da queda do homem.

v.1 – “Foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto...”

Verbo grego: anēchthē (ἀνήχθη) – aoristo passivo de anagō → “foi conduzido”

Indica uma ação divina intencional, não algo casual. O Espírito levou Jesus para ser testado.

v.4 – “Nem só de pão viverá o homem...”

Citação de Deuteronômio 8:3 → Jesus usa a Palavra como arma espiritual, em grego: gegraptai (γέγραπται), “está escrito” – perfeito passivo, indicando algo que foi escrito e permanece válido.

v.17 – “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus.”

Mesmo verbo do capítulo 3: metanoeite → usado por Jesus como João, mostrando continuidade da mensagem profética.

Conexão entre Mateus 3 e 4:

Tema Mateus 3 Mateus 4

Identidade Jesus é confirmado como Filho Satanás tenta questionar isso

Arrependimento João prepara o povo Jesus chama ao arrependimento

Espírito Santo Desce no batismo Conduz ao deserto

Palavra João prega com autoridade Jesus combate com a Escritura

O Reino de Deus começa com arrependimento e continua com provação e fidelidade.

O deserto é lugar de confronto, mas também de formação espiritual.

A verdadeira autoridade de Jesus é demonstrada não pelo poder imediato, mas pela submissão à vontade do Pai.

MATEUS 3 – O Ministério de João Batista (expansão)

v.3 – "Voz do que clama no deserto"

Citação direta de Isaías 40:3 (LXX): phōnē boōntos en tē erēmō (φωνὴ βοῶντος ἐν τῇ ἐρήμῳ)

"Deserto" (erēmos) tem carga simbólica:

Lugar de purificação

Lugar onde Deus fala (Êxodo, Elias, Israel)

Indica que o Reino não começa no templo, mas no deserto

João Batista como figura profética

Sua vestimenta de pelo de camelo e cinto de couro (v.4) ecoa Elias (2 Rs 1:8), o profeta esperado antes do Messias (Malaquias 4:5).

Ele é o precursor, preparando o povo com batismo de arrependimento, algo incomum para judeus (batismo era mais comum para prosélitos gentios).

v.10 – "O machado já está posto à raiz das árvores"

Uma imagem de juízo iminente

Gramaticalmente: keitai (κεῖται) – “está colocado” no presente indicativo, mostra urgência: o tempo do arrependimento é agora.

v.12 – “A pá está em sua mão... queimará a palha com fogo que nunca se apaga”

Refere-se ao Messias como juiz, não só Salvador

O fogo aqui é símbolo de purificação e julgamento eterno

A separação entre trigo e palha remete ao juízo escatológico.

MATEUS 4 – Tentação e o começo do Reino (expansão)

v.2 – “Jejuou quarenta dias e quarenta noites”

Ecoa:

Moisés no Sinai (Êx 34:28)

Elias no Horebe (1 Rs 19:8)

Israel no deserto por 40 anos

Jesus está revivendo e superando a história de Israel e dos profetas.

Três tentações – paralelos e simbolismo:

Tentação Texto bíblico Significado

Pão (v.3-4) “Transforma estas pedras...” Teste da confiança em Deus para as necessidades básicas

Pináculo do templo (v.5-7) “Lança-te daqui abaixo...” Tentação de testar a fidelidade de Deus

Reinos do mundo (v.8-10) “Te darei tudo se me adorares” Tentação de atalho para glória sem cruz

Cada resposta de Jesus vem de Deuteronômio 6–8, textos que tratam da fidelidade de Israel no deserto → Ele é o novo Israel, fiel onde o antigo falhou.

v.16 – “O povo que jazia em trevas viu grande luz”

Citação de Isaías 9:1-2 → refere-se à Galileia dos gentios, uma região desprezada, mas agora alvo da revelação messiânica

Jesus começa ali o ministério, quebrando o padrão religioso tradicional (Jerusalém)

v.19 – “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”

"Vinde após mim" (deute opisō mou – Δεῦτε ὀπίσω μου) era um convite de discípulo para mestre → Jesus está tomando a iniciativa, algo raro na cultura rabínica.

"Pescadores" – ecoa profecias como Jeremias 16:16, onde Deus diz que enviará pescadores para trazer o povo de volta

Cristologia implícita: Jesus como o novo Israel, novo Moisés, novo Elias

Teofania trinitária no batismo: Pai (voz), Filho (Jesus), Espírito (pomba)

O poder da Palavra de Deus – usada como arma contra o diabo

O Reino começa com confronto, não com glória — primeiro o deserto, depois a cruz


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